sexta-feira, 25 de dezembro de 2009

Feliz natal as testemunhas de Jeová, judeus, muçulmanos, macumbeiros, ateus e outros quejandos

Saudações a todos! Antes que algum "pocó" veja o título desta postagem (como já citei certa vez, "pocó" - façam a analogia que quiserem! - tem a ver com politicamente correto, espécie de chato social que costuma recalcar a natureza humana em nome de "boas causas", que vão desde o aquecimento global até a descriminalização da maconha, fazendo com que não consigamos expressar nossa real opinião sobre tais assuntos, pois mais importante que a transparência é agradar os outros) e me acuse de anti-semita, facista, intolerante religioso ou outros epítetos não muito lisonjeiros que só os "pocós" têm originalidade e inteligência suficiente para inventar, eu botei este título fazendo apenas uma alusão às crenças que eu conheço para as quais o Natal não possui religiosamente o significado que possui para os cristãos católicos, por exemplo.



E também a um bando de testemunhas de Jeová que em certo Natal encontrei na rua e com a maior das boas intenções desejei-lhes efusivamente um feliz Natal (pois entre eles se encontrava um sujeito que foi meu considerado no Ensino Médio), indo me lembrar só depois que esta crença, apesar de cristã, não celebra o Natal por considerá-lo uma festa de cunho pagão. Mas aí, a gafe já estava feita...



O que, é claro, não elimina o mérito de tais religiões, visto que todas elas (exceção feita aos ateus, é óbvio; o que logicamente não significa que os ateus sejam moralmente ruins, embora este que vos escreve considere o ateísmo algo anacrônico e fora de moda) e mais as outras religiões que me escapam agora de alguma forma nos conduzem a(os) Deus(es) e têm mensagens que nos fazem compreender as leis divinas respeitando nossas particularidades, interesses e níveis de compreensão, conclamando-nos a ética e ao respeito ao próximo. E, por estas razões e por outras que não mencionei, creio que a mensagem e a ética natalinas é válida a todas as pessoas, pois alude à necessidades e sentimentos que nenhuma pessoa saudável e racional prescinde, como o amor, a amizade, o sentimento de pertença a um grupo(a família, por exemplo), a alegria e vários outros que agora me fogem...



Porque disso tudo que eu mencionei mão estamos necessitados somente no Natal, mas sim enquanto permanecermos vivos nesta e em outras encarnações. E por isso, como bom umbandista, eu desejo a todos os nautas que ocasionalmente toparem com este blog, um feliz Natal e um 2010 com todo o sucesso que nós batalhamos todos os dias para obter!



No ano que já está para chegar, eu voltarei a botar mais coisas neste blog, e prometo ser mais variado...



Saravá o colírio alucinógeno, que nos abriu as portas do mundo real!






domingo, 6 de dezembro de 2009

Sete Rei da Lira - 1971

01.Saravá a coroa maior; 02.Sete na Lira; 03.Guardião dos caminhos; 04.A casa de Seu Sete; 05. É prá quem tem fé; 06. Sete é protetor; 07.Rosa Vermelha; 08.Rei da Lira; 09.As quatro coroas; 10.Estrela de Audara Maria; 11.Audara Maria do Oricó; 12.Dona Audara Edimum.



Ora, senhores, que palavras irei usar para descrever o que este disco registrou para o deleite e para a emoção das gerações vindouras? O que dizer de novo e criativo sobre este disco, que é um clássico da música umbandista e da música sacra brasileira? Estamos diante de um dos pouquíssimos registros disponíveis de uma das mais estupendas e comoventes manifestações de fé da história deste país: os trabalhos de Seu Sete da Lira!



Além deste disco, existe outro disco ultra-raríssimo que foi gravado ao vivo se eu não me engano no ano de 1972 (se eu não me engano este que ora comento também foi gravado ao vivo) no próprio terreiro de seu Sete, e um outro LP com composições de D. Cacilda (mãe-de-santo que recebia Seu Sete, e que, segundo pude apurar, ainda está viva, com quase 90 anos de idade) para diversas entidades, e que foi lançado em 1978 com o titulo de "A Brasileiríssima Cacilda de Assis Interpretada por Jorge Ogan" (eu tenho esse disco; qualquer dia desses eu faço uma postagem sobre ele).



Existem ainda matérias publicadas em alguns jornais e revistas, e até mesmo um filme em que Seu Sete é entrevistado, mas que está sumido porque nele (segundo a fonte em que encontrei esta informação) Roberto Carlos e Pelé fazem alusões às suas experiências com espiritismo (e nisto estaria uma faceta da vida destas duas celebridades que há forte interesse em se obliterar, dizem as más línguas).Infelizmente, eu soube que os registros das aparições de Seu Sete na tv se perderam com uma enchente.



Mas afinal, quem era Seu Sete da Lira e daonde vinha sua fama? Seu Sete da Lira é um exu da Umbanda, recebido por D.Cacilda (curiosidade: o primeiro horário de rádio conseguido por Edir Macedo para que ele divulgasse suas idéias foi na "Rádio Metropolitana de Inhaúma", e este programa era transmitido logo depois do programa que D.Cacilda mantinha nesta mesma rádio. Coisas do Brasil...), cuja fama de curador estendeu-se por todo o Rio de Janeiro, talvez até por todo o país.



Seu terreiro era tão grande quanto qualquer templo da Universal e recebia milhares de pessoas em todas as giras, cuja característica principal era as músicas. Sendo ela um dos instrumentos de trabalho de Seu Sete (os outros eram o "marafo" e o charuto) as músicas não se limitavam apenas aos pontos, iam dos sambas as marchas de carnaval, passando por músicas de cunho ainda mais popular, o que, é claro, atraía muita gente ao terreiro. Hoje, o terreiro do Pai Maneco, em Curitiba, tem um estilo de trabalho bastante parecido (se eu não me engano, o presidente espiritual deste terreiro também trabalha com Seu Sete da Lira).



Um belo dia, alguém desafiou Seu Sete a aparecer na tv, e este não se fez de rogado: num belo domingo de 1971 (se não estou enganado) Seu Sete da Lira e sua comitiva se apresentam nos dois maiores programas de auditório da época: o programa de Flávio Cavalcânti e o programa do Chacrinha. Nos dois programas, se fez o verdadeiro ritual de Seu Sete: muitas pessoas entraram em transe ao mesmo tempo em que Seu Sete ria, dançava e bebia quantidades absolutamente inacreditáveis de "marafo" (reza a lenda que a esposa de Médici, o presidente da República na época, incorporou uma pomba-gira enquanto assistia a estas apresentações).



O que marca este episódio é que, com a intensa polêmica que foi acendida com Seu Sete, polêmica esta que contagiou a alta cúpula da Igreja, o governo (estávamos na época mais braba e repressiva da ditadura militar), alguns setores mais conservadores da sociedade e até mesmo alguns umbandistas mais ortodoxos, passou a haver um maior controle da censura nas emissoras de tv, pois, naqueles tempos de "ame-o ou deixe-o", quanto não haveria de subversivo e transgressor no ritual de Seu Sete da Lira num "Brasil Grande" que ninguém segurava, o Brasil que a ditadura queria fazer crer que existia?


Enfim, este disco está classificado naqueles que você não pode desencarnar sem ter ouvido pelo menos uma vez. Muito provavelmente este disco deve ter auxiliado o terreiro a se manter financeiramente (e, consequentemente, deve ter tido uma vendagem razoável), uma vez que eu também soube que D.Cacilda vivia de seu trabalho como compositora, e seu templo (que, segundo pude apurar, existe ainda hoje, embora não funcione mais) não recebia ajuda financeira de ninguém. Uma obra para que nós nos emocionemos com a beleza da Umbanda e sintamos ainda mais orgulho de pertencermos a ela.



E vamos ao colírio, saravando o grande exu Sete da Lira!



Para ouvir a faixa 03, "Guardião dos Caminhos", clique no seguinte link: