sábado, 25 de dezembro de 2010

O que o bando gospel precisa aprender com Tim Maia

Eu ganhei essa porcaria como presente de aniversário dos meus colegas quando eu ainda estava no segundo semestre da facul. Não é um LP musical, em cada lado só há um discurso proferido por esse conhecido celerado mental que é o David Miranda (pra quem não sabe ele é o chefe daquela igreja grande que tem na Várzea do Glicério, a "Deus é Amor", e que tem uma rádio AM onde ele e seus asseclas ficam gritando o dia inteiro "Senhooooor!" Todo mundo já deve ter escutado pelo menos um minuto). Quando por alguma razão estou com raiva de algo e desejo por para fora meu lado Adolf Hitler, eu procuro ouvir esse disco em rotação acelerada, 48rpm (0s LPs antigos rodam a 33rpm), e estranhamente me sinto melhor...


Tim Maia levou uma vida completamente tresloucada, mas nunca deixou de ser um gênio...Mesmo numa época em que o cara largou tudo pra estudar uma obscura filosofia e só se fodeu por causa disso, ele conseguiu produzir dois dos dez maiores discos da música brasileira: "Tim Maia Racional" e "Tim Maia Racional vol. 2" Catequese pura, mas cheia daquela inocência hippie dos anos 60/70 do século passado em acreditar num futuro melhor num mundo mais evoluído, e ainda assim é melhor do que qualquer música gospel...


Saudações a todos! Já faz muito tempo que não escrevo nada aqui no meu blog, isso porque os últimos acontecimentos não me permitiram fazê-lo, e nem a inspiração me pôde valer. Recentemente, eu passei a conhecer os famosos discos que Tim Maia lançou na época em que ele foi adepto da Cultura Racional. E pensei em fazer uma postagem comentando sobre esses discos... Mas enquanto eu reunia a inspiração e a vontade suficientes para escrever algo que preste, outros fatores me chamaram a atenção.


Eu percebi que esses discos foram todos voltados à divulgação da Cultura Racional, mas isso foi feito de uma forma que, apesar de ser muito direta (a capa dos LPs - eu botei aqui a do segundo porque na minha opinião o segundo LP é o mais bem acabado e tem as melhores músicas - já deixa isso bem claro),não era agressiva e nem procurava encaixar o gosto popular á doutrina que se estava divulgando. Tim Maia fez música diferenciada e doutrinária de uma forma que ela pudesse servir não só para o consumo dos adeptos de suas crenças. A maioria dos que hoje em dia vão atrás das obras que citei não estão interessados em estudar ou se aprofundar na Cultura Racional, mas sim em ver o gênio do cara ao falar do que acreditava usando todo o seu talento e sem agredir a ninguém.


Senão, vejamos esses vídeos que estão rolando na web:









E comparem com estas músicas do Tim Maia:









Perceberam a diferença, amigos leitores? Como é bem sabido os evangélicos de hoje procuram criar um mundo paralelo onde existem todas as coisas do "mundo profano" ou mesmo "mundo", na linguagem dos evangélicos, mas numa versão evangélica: assim sendo, temos forró evangélico, pagode evangélico, funk evangélico (muitas vezes eles fazem uma paródia de alguma música famosa e tocam ela em qualquer ritmo)...


Nessas horas, eu fico pensando: como seria um funk umbandista??? (como diria um colega meu, funk já é uma música de arrancar o cu da bunda, imagine isso transportado para esse mundo anêmico dos evangélicos modernos) Eu já pude ver sambas, xotes, música caipira e até música eletrônica falando de umbanda, mas nenhuma das que eu ouvi tentavam doutrinar os ouvintes, só falavam das forças naturais que estão presentes no universo e na vida de todos nós, e que algumas pessoas, entre as quais os umbandistas, cultuam. E eu vejo ainda que Tim Maia fez o que fez com todo o coração, sem deixar de lado o talento que ele tinha, catequizava sem forçar nada a ninguém, e fazendo boa música...


Hoje em dia, o que podemos ver são moças e rapazes de voz estrídula cantando uma balada mela-cueca falando da inadiável necessidade de se batizar ou de aceitar a Jesus, ou fazendo uma paródia esdrúxula de uma música famosa, ou orientando os jovens a reprimirem sua curiosidade, suas dúvidas e sua sexualidade, como se houvesse um botão que pudesse desligá-la enquanto eles são solteiros e que só deve ser ligado quando a pessoa se casa (no civil e no religioso!) com alguém. Enquanto isso, estamos vendo inúmeras pessoas se submetendo a coisas que elas não conseguem sequer definir, ou casamentos se dissolvendo por causa da insatisfação sexual do(s) cônjuge(s).

Isto de cantar a beleza do mundo espiritual, usando de seu talento musical, ou de falar das forças naturais que regem a vida universal, sem agredira as mentes e os ouvidos de quem quer que seja, definitivamente não é com a maioria dos evangélicos. Não há mais a vetustez dos hinários das denominações tradicionais, acompanhados por uma afinada orquestra, que expressem a beleza de se estar em comunhão com o sagrado, ou de músicas que reportem a essa eterna ingenuidade de que um dia viveremos em um mundo colorido e purificado de toda a maldade. Infelizmente, sob esta maldita bandeira do politicamente correto, temos que tolerar que um penico de merda seja atirado todo santo dia em nossas faces, e ficar bem quietos..


Só tomando uma dose pra passar a raiva... No ano que vem, tem mais!