terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

No dia que eu nasci, metalúrgicos não gostam de metal


Saudações a todos! Essa figura aí é um recorte da "Folha de S. Paulo" - um dos grandes jornais do Estado e talvez do Brasil (e por esta razão tão criticado pela sua falta de liberdade editorial), datado do dia 02 de novembro de 1985, que não por acaso é o dia em que eu nasci. Antes de entrarmos nos detalhes do que vai neste recorte, contemos a história desde o comeco:

No final da semana passada, o Grupo Folha disponibilizou na internet a versão integral de quase todas as edições dos jornais que editou, e por algumas horas chegou a disponibilizar grauitamente a versão digital deste acervo para consulta. Hoje, tal consulta só pode ser feita mediante pagamento de uma taxa. Aproveitei este período para ver o que saiu na Folha no dia em que eu nasci, e deparei com este recorte, que está no pé do caderno "Ilustrada" do já citado dia de meu nascimento.

Nesta matéria, alguns operários da Saab-Scania são entrevistados para saber se gostam de heavy metal, e todos são unânimes em dizer que não, e citam como gosto musical a MPB, o samba e o rock nacional (que naqueles tempos de fim da ditadura estava bombando). Dizem não gostar de metal pelo fato de acharam a música barulhenta demais e pelo fato de as letras estarem em inglês; apesar disso não demostraram ser intolerantes com o metal (como os poucos leitores deste blog sabem, sou bastante intolerante com gosto musical; embora digam que gosto é como cu - cada um tem o seu - digo que em matéria de música uns mantém o cu sempre limpo e outros mantém o cu sem conhecer o que é papel higiênico) e não se afligiriam se tivessem um filho metaleiro.

Acredito que esta matéria de jornal é fruto de um tempo em que o Brasil estava começando a se livrar das heranças da ditadura militar (que mesmo depois de seu fim ainda se faziam bem vivas e presentes) e fazia isso principalmente através da contracultura, como se quisesse tomar um porre pra descontar os 20 anos de "abstinência" da ditadura. Por essa época pode-se dizer que vivemos nosso 1968 tardio (quase 20 anos depois!) e pacífico. Ser jovem no Brasil dos tempos de minha primeira infância era ser um rebelde sem causa temporário; era uma malandragem sem malícia alguma, de uma vida que deveria ser vivida o mais intensamente possível.

Hoje em dia, 25 anos e poucos meses depois, os metalúrgicos desta matéria (se ainda estão vivos) já devem ter se aposentado, ter filhos casados e talvez já sejam até avôs. E a juventude frenética daqueles tempos, pelo menos os que foram suficientemente morigerados para escapar das overdoses e da AIDS, já são maduros quarentões, alguns pais de filhos adolescentes que hoje curtem o pancadão dos morros cariocas. E eu apenas passei de bebê recém-nascido para estar aqui escrevendo o que penso da vida neste blog...