segunda-feira, 12 de dezembro de 2011

Em tempo de macumba - 1972

Capa da edição que ora comentamos, com uma ilustração representando Heitor dos Prazeres e João da Bahiana fazendo um "sambacumba". É, meus senhores, o samba surgiu nos terreiros de macumba, mais precisamente na casa de Tia Ciata, onde Mário de Andrade (no romance "Macunaíma, O Herói Sem Nenhum Caráter") nos relata que o samba era logo depois da função religiosa; até hoje, o samba é um ritmo de percussão sagrado da Umbanda e, se não me falha a memória, da nação angola também... E esses dois bambas foram, por assim dizer, os pais espirituais do samba, pois, como se pode ver neste LP e na obra deles, os dois foram gênios tanto no samba profano como na macumba...



Capa da edição original, de 1958


01.
Vamos brincar no terreiro;
02.Ogum-Nelê;
03.Conga;
04.Pai Joaquim de Angola;
05.Vovó Joana do Aguiné;
06.Oxum-Maré;
07.
Nego Véio;
08.Vai I-Ao;
09.Ago-Iê;
10.Ogum Yara; 1
1.Homenagem a Oxalá;
12.Aruanda;
13.Rainha do Mar.


Saudações a todos! Já faz tempo que eu tenho vontade de comentar esse LP, e vou encerrar as postagens do ano (que, em matéria deste blog, não foi tão produtivo quanto eu esperava que fosse; as postagens foram muito poucas porque a inspiração devida nos faltou e nossos compromissos truncaram muitas idéias que eu pretendia botar aqui) com essa aqui que ora estou escrevendo.


Este LP, apesar de ter vários links para download na web, contar com a participação de mestres como João da Bahiana, Heitor dos Prazeres, Ataulfo Alves e Jorge Fernandes (o menos conhecido de todos) e ter tido três edições diferentes (com uma capa bem chocante na primeira, que mostra o corte ritual de um galo por uma mãe de santo[?], também mostrando uma moça[?] que aparentemente está lambendo o sangue do galo que lhe escorreu na mão - talvez seja um[a] orixá/entidade incorporado[a] - só pra fazer os carolas evangélicos, os vegetarianos e as associações protetoras dos animais surtarem), não tem sido valorizado e/ou comentado na sua importância para a música brasileira.


Como eu e mais pessoas de (muito) mais calibre que eu defendemos, a música popular brasileira, tal como a concebemos hoje, tem o seu pé (não um só, mas bem certamente os dois) dentro dos rituais religiosos de matriz afro-indígena. Principalmente o samba, que não só é um ritmo percussivo sagrado neste rituais que citei, mas também surgiu como música profana dentro de um espaço sagrado: a casa de Tia Ciata, que não só era mãe de santo como reunia em sua casa os grandes músicos populares e boêmios das primeiras décadas do século passado (aliás, é bastante esquisito nós, que vivemos até agora a maior parte de nossas vidas no século XX, termos que nos referir a ele como o século passado, dá a impressão de muita distancia temporal do que comentamos e sobretudo dá a impressão de que somos velhos, por sermos, apesar de não termos alcançado os 30 anos, homens do século passado); João da Bahiana e Heitor dos Prazeres estavam entre os frequentadores desta tão afamada casa, que está descrita (como já falei em outra postagem) em um dos capítulos do livro "Macunaíma, o Herói Sem Nenhum Caráter" (leiam o livro e vejam o filme que se baseou neste livro; é um dos raros casos em que o filme é melhor que o livro)...


Pois bem, meus senhores, neste disco temos ainda a participação do grande Ataulfo Alves e ainda a participação de Jorge Fernandes (dos quatro o menos conhecido), com bonitas fantasias musicais baseadas em cantigas religiosas da umbanda. Enfim, é um disco que mostra a música brasileira nas suas origens mais íntimas (e sempre renegadas). Como pesquisador (não tão hábil, mas vou dizer um dos pioneiros - olha a modéstia indo pro ralo!) deste tema, posso dizer que muita coisa está por se escrever e por ser pesquisada nesse respeito (as origens religiosas da música popular, ou mesmo sobre a música religiosa das religiões de matriz afro-indígena), só esperando que denodados cientistas humanos façam a sua parte e dêem suas contribuições nesse campo.... (se você conseguir domar sua preguiça para ler o que escrevi a respeito disso - a monografia que escrevi como exigência da Licenciatura em História pela Universidade Federal de São Paulo - está aqui: https://docs.google.com/viewer?a=v&pid=explorer&chrome=true&srcid=0B4qdFTP4R1vLZDY4Njk2NDgtOWQ5NS00YzcyLThiZjctYTA1NmZkYTk4Nzdj&hl=pt_BR)



E aqui termino as postagens deste ano... No ano que vem, vou ver se consigo dar corpo a tudo que pretender publicar aqui, pois como bem disse uma colega blogueira (vai na minha lista de blogs favoritos e procura o blog "dois enes"; você verá o que essa colega andou escrevendo), "escrever é difícil pacas!" E a cada dia isto tem sido mais verdade; este post demorou mais de uma semana pra ser editado, porque o Blogger andou com uns problemas que não permitiam a formatação das postagens.. E vou fechar com esta letra, que é da faixa que escolhi para degustação de costume:

"Din din din, din din din,
Vamo saravá Pai Joaquim,
Din din din, din din din,
Vamo saravá Pai Joaquim!

Já encourei o pandeiro,
Já afinei a viola,
Agora vou pro terreiro,
Chegou Pai Joaquim da Angola"


Para ouvir a faixa 04, "Pai Joaquim da Angola", na interpretação de Ataulfo Alves, é só ir aí embaixo:
http://www.esnips.com/displayimage.php?pid=33019137