quinta-feira, 23 de agosto de 2012

Sobre a pinga e outras drogas (repostagem)

Eis a minha cachaça favorita: Rainha Paraibana... O rótulo vermelho já está de sobreaviso: 50% de etanol (já foi 54%!) não é pra qualquer juvenil! Já vi muitos cachaceiros experientes se engasgarem com um único gole desta bebida, enquanto este pobre indivíduo que vos fala é capaz de virar um copo americano num instante sem sequer piscar! Pelo menos de algo que eu faça devo me orgulhar, não?



Essa aí já é uma cachaça mais top; dizem ser a favorita do ex-presidente Lula... 03 anos de descanso em tonéis de bálsamo e um sabor incomparável, aromático e suave...Pena que custa tanto como uma garrafa de Green Label, mas é uma cachaça excelente...



Um registro da pior bebedeira da minha vida: 03 dias de dores de cabeça e de estômago, náuseas, vômitos e desarranjo intestinal... 03 dias que não desejo viver novamente!




E eis o que causou todos estes males que citei: um porre de Caninha da Roca, a pior pinga do mundo... Passe longe dela e de todas as cachaças de Rio das Pedras!




Quem diria que isto seria possível nos dias de hoje??? Uma criança de 05 anos tirar fotos com um cachimbo na boca???







Saudações a todos! Por que razões eu estou aqui a falar sobre a bebida típica nacional? Ora, pelo que vocês já puderam notar, eu sou um cara chegado no "absinto caboclo", por isso comecei esta postagem falando duas palavras sobre as cachaças mais marcantes que eu tomei: seja pela sua qualidade ou pela sua ruindade...


Creio que seja oportuno falar disso neste momento em que surge uma legislação que normatiza a produção dos aguardentes oriundos dos subprodutos da cana-de-açúcar, diferenciando a cachaça dos demais aguardentes de cana. Concomitante a isto, o processo de produção artesanal da cachaça está em vias de se tornar oficialmente (se já não se tornou) um patrimônio cultural imaterial de nosso país, que como tal deve ser documentado, registrado e preservado em todos seus pormenores. Entretanto, pouco se tem falado sobre os efeitos deletérios do consumo excessivo de álcool, que talvez seja mais danoso do que a maior parte das drogas ilícitas.


Em nossa cultura, como talvez na maior parte das culturas ocidentais, o consumo de álcool está fortemente ligado à passagem da adolescência para a vida adulta; uma das coisas que diferencia o adulto do adolescente é o fato de que o primeiro pode aparentemente consumir álcool a seu gosto sem atrair olhares de censura, enquanto o segundo tem que ficar quase que mendigando uma bicada no copo de cerveja ou de caipirinha do pai ou da mãe. Se ele se atreve a tomar mais de dois dedos de vinho espumante na passagem do ano ou daquele ponche gostoso numa festa, isso já é motivo para um longo sermão condenando tal atitude... Uma das transgressões mais excitantes da adolescência é o consumo de álcool clandestino.


Eu me lembro dos meus dois primeiros pileques, no tempo em que eu fazia o ensino médio numa escola técnica pública na Vila Maria. A primeira vez foi quando o pessoal foi num desses passeios de escola ver uma exposição sobre Napoleão que estava ocorrendo na FAAP, e que continha muitos objetos pessoais do dito cujo.


Na volta para a escola, dois pilantras tiraram da mochila algumas garrafas de refrigerante cheias de caipirinha, e que foram consumidas no caminho de volta. Ninguém bebeu uma quantidade muito grande de caipirinha, mas como todos estavam pouco acostumados ao consumo do álcool, ficamos bastante "alegres", e aparentemente não despertamos a suspeita dos professores que nos acompanhavam, pois já tínhamos fama de ser um pouco indisciplinados. Até hoje me lembro do pessoal contente por supostamente ter conseguido enganar os professores bem na fuça deles... Inclusive, a caipirinha que eu tomei até hoje me parece que ela tinha o gosto "especial" da subversão misturado no meio do álcool...


E na festa que organizamos para comemorar o fim do ano letivo, e por extensão o término de nossa passagem pelo ensino médio? Eis que de repente alguém saca de sua mochila uma garrafa de vodca barata, e incontinenti a misturam com o conteúdo de duas garrafas de coca-cola que já estavam pela metade. Asssim sendo, todos os presentes se serviram de belas lapadas de coca com vodca; a vodca era barata, mas fez efeito rapidamente: em instantes já estávamos "de fogo", acompanhados até mesmo pelos colegas mais comportadinhos.


Num momento em que a algazarra produzida por nós se tornou intolerável para os ouvidos das pessoas sóbrias, a coordenadora pedagógica da nossa escola foi ver o que estava acontecendo, e imediatamente farejou que todos estavam sob o efeito do álcool. Nesse instante, tive um lampejo de sobriedade e pensei com meus botões: "P.Q.P, a gente tá fodido!" Pra nossa sorte(?) toda a bebida já havia sido consumida, e a vodca, ao contrário da pinga, não deixa o hálito bucal ou o suor dos que a bebem com um odor acentuado; por esta razão, quando a mulher foi cheirar o hálito de um dos colegas pra ver se suas suspeitas se confirmavam, nada conseguiu obter e nos deixou em paz(?) novamente.


De resto, o que eu sei é que este dia foi um dos mais legais de todos esses quase 27 anos de existência; até hoje, quase dez anos depois desse fato, eu conservo comigo uma camiseta com os autógrafos dos colegas; eu dancei forró (ou pelo menos eu julguei que estava dançando, pois até hoje nem dançar cirandinha eu sei!) coladinho com a minha paixão da época...


Como vocês notaram, eu só falei de experiências boas de minha vida relacionadas ao álcool; não falei das besteiras que fiz na rua e dos perigos a que me expus quando estava embriagado, não falei das dores de cabeça que senti nos dias subsequentes à embriaguez, das vezes em que magoei meus familiares por eles me surpreenderem sob o efeito do álcool, como é horrível ter que ir trabalhar de ressaca, nem dos exemplos que presenciei das consequências do abuso do álcool dentro de minha própria família... Do mesmo jeito que na propaganda, eu relacionei o consumo da bebida às coisas boas da vida; vejam só essas duas propagandas de cachaça: www.youtube.com/watch?v=rN258QIedCo (meu avô gostava dessa pinga e minha vó usava essa cera pra lustrar os tacos do chão da sala e dos quartos) e www.youtube.com/watch?v=QNwD1BV1mNo&feature=related (o macaco cachaceiro; hoje em dia isso seria impensável).


Perceberam a sutileza? Uma música agradável seguida de um pedido de uma dose (houve quem comentou: "Ai tatu/Tatuzinho/Quando fecha a garrafa/Me abre o cuzinho") e um macaco esperto que pra esquecer as angústias de sua profissão vai buscar uma "quente", demonstrando mais sagacidade que seus donos, que queriam fazer ele montar em cima de um leão... Quando vamos nos dar conta, o mal já está feito e não conseguimos mais parar de beber, uma vez que fomos educados pra acreditar que a bebida está por trás das coisas agradáveis da vida...E talvez esse seja precisamente o mal; praticamente não existem, ou pelo menos são raros, os momentos de nossa vida particular e até mesmo pública em que o consumo de álcool não caia como uma luva: quando nos levantamos, quando vamos dormir, antes, durante e depois das refeições, numa festa ou numa conversa informal com os amigos, até mesmo antes ou depois de uma transa. Inclusive, em muitos desses momentos, se o álcool não estiver presente temos a impressão de que está faltando algo.


Até mesmo rezam os evangelhos oficiais que o primeiro milagre de Jesus Cristo foi transformar cerca de 240 litros de água em vinho (e eu tenho com meus botões que só não foi chope ou mesmo cachaça porque os antigos judeus desconheciam tais bebidas), muito embora os adventistas que me educaram durante todo o ensino fundamental teimassem em dizer que este vinho era o "suco de uva não-fermentado", o que para os leigos é simplesmente suco de uva puro... Pois bem, o que nos interessa dizer é que, uma vez instalado, o álcool não nos abandona mais e arranja um jeito de se imiscuir em todas as esferas de nossa vida, e tudo o que nos cabe fazer é administrar essa presença de modo que ela não nos atravanque a vida...Pois quem pode negar que uma dose de uma pinga de qualidade não é boa? Como negar que a tontura e a desibinição provocadas pelo álcool não são gostosas até certo ponto? Como quebrar com o costume de meus avós paternos (que são de uma região do interior paulista onde a presença italiana é muito forte; infelizmente eu não sou descendente de italianos) de botar uma garrafa de vinho suave na mesa por ocasião de qualquer refeição festiva?


Realmente o que temos que fazer é não nos deixar dominar pela bebida, como um irmão de minha mãe que em virtude do alcoolismo abandonou a mulher e seus dois filhos na miséria, causou muitos desgostos aos meus avós, se expôs a diversos perigos, estragou o clima de muitas festas de Natal (desde o ano em que meus pais se casaram, as festas de Natal sempre foram realizadas reunindo a família de meu pai e de minha mãe em minha casa, e nisso se incluíam meus tios, meus primos e em algumas vezes até a família dos namorados de ocasião das minhas tias solteiras; só depois de alguns anos eu fui entender porque meu avô materno sempre chorava nos dias de Natal; era sempre por causa de alguma que meu tio aprontava por causa da bebida) e por fim acabou, depois de longa disputa, tendo que ser interditado judicialmente para que fosse possível a sua aposentadoria por invalidez (por causa do abuso alcoólico, a parte do cérebro de meu tio responsável pela memória recente ficou permanentemente comprometida, e por esta razão ele agora não só parou de beber como tem que viver sob tutela alheia; como os distúrbios causados pelo álcool não são legalmente considerados suficientes para ensejar aposentadoria por invalidez, minha mãe teve que entrar com um processo judicial para interditar meu tio e assim ele poder se aposentar. Nesta semana, minha mãe obteve a interdição definitiva de meu tio, tornou-se sua tutora legal e possibilitou sua aposentadoria).


Pois bem, não obstante esse gritante exemplo, vamos tocando a vida com esse mal necessário... Mas e as outras drogas? Sobre as outras drogas, o que temos a dizer é o seguinte: eu também gosto de fumar cachimbo, tanto o fumo próprio para esse fim quanto o fumo de corda; o segundo, por seu odor relativamente desagradável, eu só uso em casa, e a minha relação com esta droga é quase a mesma que com o álcool: não fumamos em demasia, mas vamos tocando a vida sob a sombra deste vício. Pois é claro que o governo não está preocupado com as mortes causadas pelo fumo ou por qualquer outra droga, mas sim pelo gasto que as pessoas doentes proporcionam ao utilizar a rede pública de saúde pra se tratar destes males relacionados à intemperança.


Ora bolas, se há uma coisa que eu aprendi em 3 anos de funcionalismo público é que o governo, que mais do que ser a representação de todos os cidadãos se tornou uma entidade separada e acima destes, é e sempre será extremamente rico e poderoso, e que dinheiro, para o governo, nunca faltou e jamais irá faltar; o que acontece é que o dinheiro dos nossos impostos é, em sua maior parte, malbaratado em um sem-número de safadezas e inutilidades. Por povo que trabalha quase a metade do ano para pagar impostos e que deseja ver esse esforço revertido em benefícios, só as migalhas... Um exemplo disso é a quase ausência de políticas públicas voltadas para a recuperação dos que desejam abandonar o vício em qualquer substãncia. O que temos são iniciativas de ONGs, associações religiosas e o que a iniciativa privada oferece, mas público....


E quanto as drogas ilícitas? Eu devo dizer que a minha história com elas não é muito bonita; como eu já devo ter dito, os primeiros 7 anos de minha vida foram passados em sua maior parte ao lado da mãe de meu pai, que até hoje mora no bairro paulistano da Vila Maria. Quem conhece este bairro, sabe que é um bairro de "classe média baixa", ou onde moram mais pessoas da classe C e algumas da D, e que tem os seus bêbados e seus viciados em drogas.


Pois bem, quando eu tinha uns dois anos de idade alguns drogados pularam o muro da casa de minha vó, provavelmente atrás de alguma quinquilharia que pudessem roubar. Nesse inteirim, minha vó e minha tia, que era adolescente nessa época, chegaram em casa e deram um grito invocando pela polícia. Os elementos, assustados com o grito, não só não roubaram nada como deixaram o banheiro todo cagado e ainda deram uma facada nas costas de minha tia com uma faca de cozinha pequena. Felizmente, o golpe não foi muito profundo, e só teve que levar alguns pontos, além de minha vó ser obrigada a limpar a sujeira do banheiro.


Muitos anos depois, a casa de minha avó estava sendo reformada, e parte dos materiais de construção estavam empilhados na viela aonde ela e meu vô moram (a Vila Maria tem muitas vielas, em forma de grandes escadarias de concreto). Algum maconheiro escondeu sua droga enterrando o pacotinho num monte de areia. Quando ele retornou e não encontrou a droga, ele passou a atormentar meus avós, perguntando "onde é que estava o bagulho", muito embora meus avós não tivessem nada a ver com o assunto. O que eu sei da história é que o sujeito fez um escândalo tão grande que foi necessário chamar a polícia para contê-lo. Como ele já estava sendo procurado por outros crimes (ele estava preso no antigo Carandiru e não havia voltado da saidinha de fim de ano) ele acabou sendo conduzido de volta à prisão.


Ainda me lembro de um jovem rapaz muito maltratado que passava o dia estirado no meio da viela fumando maconha; eu não vi, mas todo mundo comentava já tê-lo visto diversas vezes se masturbando ali mesmo. Resumidamente, ele estava em uma sitação muito deplorável; acho até que ele tinha outros problemas que não apenas a droga, talvez alguma deficiência (pois nunca o vi pronunciar uma única palavra, e ele sempre parecia estar babando). Depois de um certo tempo, ele sumiu e não foi mais visto por ali. Uns diziam que ele tinha sido internado na Fundação Casa (nesse tempo ainda era FEBEM), outros diziam que ele tinha morrido esmagado por um caminhão enquanto dormia embaixo dele; o que sei é que de repente não mais o vimos.


Pois bem, eu me lembro que minha santa avozinha, católica às direitas e pessoa extremamente crédula, medrosa e cheia de ojeriza a quaisquer substâncias entorpecentes (como geralmente são as pessoas antigas do interior), me educou no medo destas e de outras figuras que eu não citei. Eu aprendi a ver os maconheiros como pessoas imprevisíveis e perigosas, que num surto de loucura podem avançar em cima de você para te agredir e/ou te roubar somente porque você está olhando pra elas; enfim, como pessoas que devemos evitar a qualquer custo. E pra piorar as coisas, eu fiz todo o ensino fundamental numa escola pertencente aos adventistas, conhecidos por sua rigidez e conservadorismo em matéria de comportamento, e por proporcionarem em seus estabelecimentos de ensino uma educação que isola os alunos da realidade exterior aos muros da escola.


Até que um dia eu aprendi (a duras penas, diga-se de passagem; Deus e os orixás são testemunhas do quanto eu sofri quando eu mudei de escola, era praticamente o "Boça"[aquele mesmo do "Hermes e Renato"] da escola. Só agora que os cabelos estão começando a me fugir da cabeça que eu estou começando realmente a aproveitar a vida!) que o mundo era muito maior do que meus livros, gibis da Turma da Mônica e coleção de selos, do que a casa de minha santa avó paterna e a Vila Maria, do que o Colégio Adventista de Vila Galvão e a Paróquia Nossa Senhora do Rosário (onde eu recebi a catequese), ou mesmo os cuidados de papai e mamãe...


Um belo dia, acabei caindo na real, conheci muita gente nos lugares onde estive e no meio dos que ocasionalmente passam por mim e trocam algumas palavras comigo, certamente há alguns que gostam de "dar um tapa na pantera", ou que passam mais tempo no bar do que na sala de aula; fui notando que geralmente (mas não sempre!) estes elementos estão entre os mais legais, bons de papo e mentes-abertas que eu conheco, e que geralmente (mas não sempre, lembrando de novo!) os abstêmios e temperantes (ou pelo menos os que posam como tais) estão entre os mais boçais e insuportáveis que passam por mim. Observei que o fato de alguém ser usuário de maconha não torna esse alguém necessariamente um sujeito perigoso ou um sujeito que vive vegetando num canto, onde está permanentemente com uma das mãos enfiadas na braguilha, a se masturbar. Enfim, aprendi a ver a realidade das coisas.


Pois bem, com um pouco mais de discernimento e maturidade nós passamos a ouvir os dois lados da história, notando que o ponto de vista hegemônico sobre algumas drogas ilícitas procura sufocar e desqualificar, por exemplo, o discurso em prol de uma regulamentação do uso recreacional e até mesmo religioso de algumas drogas. Pois a estas alturas já ficou bem claro que o teor e o nível do discurso dos que pregam a absoluta temperança já não se encontram em um nível que seja capaz de sustentá-lo inteiramente com argumentos ponderados e lógicos.


Exemplos disso são os acontecimentos envolvendo a(s) Marcha(s) da Maconha e a primeira versão da lei antifumo que está em vigor no estado de São Paulo, que ao proibir o consumo de tabaco em lugares fechados abertos ao público e dentro de templos religiosos abria uma brecha para que, contrariando o respeito às liturgias religiosas previsto na Constituição Federal, templos de umbanda pudessem ser invadidos pela autoridade policial e/ou judiciária, ter suas atividades paralisadas e/ou receber pesadas multas. Nesse caso, felizmente se abriu uma isenção na lei para este caso específico. E, ao contrário do que prega o senso comum, o povo não se deixa enganar indefinidamente, e nota que esse discurso patinado que infelizmente se tornou o discurso anti-drogas já está em pé de igualdade lógica com o discurso dos que defendem a liberação total.


Como nós sabemos, quando no enfrentamento de uma questão uma atitude é contrária à opção mais lógica para o enfrentamento desta, é porque existem interesses de peso que devem ser preservados (econômicos sobretudo; agências de publicidade que contratam com o governo, a indústria farmacêutica, ONGs que recebem repasse de dinheiro público, donos de clínicas particulares de recuperação, operadoras de planos de saúde... enfim, uma mina de ouro!) E para que os interesses de uma minoria se mantenham intactos e para que as pessoas permaneçam na ignorância disso, o discurso do outro é violentamente desqualificado e o debate é posto como uma atitude estúpida e tresloucada.


E para aumentar o paradoxo, temos como política oficial do governo a redução de danos, que por uma série de cuidados enfrenta a questão das drogas sem a necessidade que o viciado entre em abstinência imediata. Seja distribuindo seringas descartáveis ou canudos de silicone, o que se procura é fazer com que o consumo das substâncias seja o menos danoso possível, e não provoque danos correlatos como infecções, transmissão de DSTs, intoxicações causadas por elementos alheios à droga (alguma substância fumada em cotovelos de PVC poderia liberar substâncias venenosas vindas deste material) gestações indesejadas, acidentes automobilísticos etc. Na página da Associação Brasileira de Redutores de Danos: http://www.abordabrasil.org/ encontramos muitas dicas que podem ser seguidas pelos usuários das drogas mais populares, e o incrível é que todas as dicas sempre salientam a necessidade do uso de preservativos...


Enfim, o que temos por certeza é que muita gente já morreu e a questão ainda não está fechada, e não admite pontos de vista radicais. Ora, nós podemos muito bem fabricar cachaça em nossas residências para nosso consumo próprio, mas se nós vendemos nossa cachaça para todos os bares da cidade, as autoridades competentes quererão normatizar os processos produtivos, cuidar da higiene destes processos, e o mais importante: cobrar impostos sobre nossa produção. Se insistirmos em fabricar bebida na clandestinidade, sofreremos a repressão das autoridades.


Assim sendo, por que o consumo da maconha, por exemplo, não poderia ser alvo de política semelhante? Nós estamos nos privando de inúmeras oportunidades de prazer por que nesse clima atual não queremos ser surpreendidos pela polícia somente porque estamos fazendo uma "defumação" pra nosso relax, não queremos por causa disso termos que assinar um termo circunstanciado num DP qualquer que nos obrigue a nos apresentarmos mensalmente a um juiz criminal para dizermos que estamos cumprindo as penas alternativas que nos foram impostas, e ainda ficar com esse estigma estúpido no nosso atestado de antecedentes (o que nos impediria de assumir qualquer cargo no funcionalismo público, pois para a posse em um cargo público se exige a certidão negativa de antecedentes. Imagine que não podemos entrar no exercício de um cargo público em que nos esforçamos para passar nas provas só porque em nossos antecedentes consta que pagamos pena alternativa por posse de entorpecentes!). Essa história que eu contei é inventada, mas infelizmente pode acontecer com muita gente. Precisamos rever com urgência noissos conceitos e retomar com seriedade o debate sobre esta questão...

Sobre uma paixão de vida (repostagem)



Saudações a todos! Já faz muito tempo que eu não escrevo, e confesso que até pensei em abandonar este blog, mas eu sinto que estou cada vez mais cansado, enfadado da vida e com mais necessidade de me desapegar da vil realidade, e uma das formas que uso para fazer isso é passar horas e horas escutando música e caçando novidades para ouvir na web...


E agora mesmo estou dividindo minha atenção para escrever algo prestável (até porque, além de prezar pela qualidade do que posto aqui no blog, estamos no primeiro post do ano, apesar de já estarmos em abril!) com a audição dos belos sambas que foram apresentados na fase de "vela azul" do Samba da Vela (para quem não sabe, o Samba da Vela é uma comunidade de sambistas que se reúne todas as segundas na Casa de Cultura de Santo Amaro, e que preza pela divulgação de novos sambas e de novos compositores, bem como de uma nova forma de apreciar estes sambas; o tempo de duração do samba é determinado pelo consumir de uma vela que ao ser acesa inicia o samba, e ao se extinguir totalmente o encerra; o público se senta em volta dos pagodeiros, e aprecia os sambas através de um caderno impresso, e a fase de vela azul é a de apresentação de sambas que podem vir a compor este caderno que determinará os sambas que serão apreciados pelo público durante um certo período de tempo; geralmente se lançam de um a três cadernos por ano. Eles já lançaram há alguns anos atrás um CD com os sambas mais apreciados - e que todos os que gostam de samba não devem deixar de ouvir - e estão para lançar um segundo, certamente um dos lançamentos mais aguardados do mundo do samba)...


Ou seja, eu estou tentando (inutilmente, de certa forma!) dividir minha atenção com todas estas coisas; por vezes tenho que parar de escrever para apreciar um samba com mais detença. E eu sei que se eu ficar parando muito, vou perder a vontade de escrever e se eu retomar em outro dia, a inspiração inicial já terá fugido.. Some-se a isso o velho dito de Voltaire que persegue todos os blogueiros do mundo e todos os que passam pelas mais movimentadas redes sociais (e que eu já citei varrias vezes aqui, mas é tão sábio e tão incisivo que eu nunca me cansarei de citá-lo): "Existem duas coisas capazes de tornar ridículo mesmo um grande homem: a necessidade de falar e o embaraço por nada ter a dizer" Mas pelo menos hoje, eu tenho algumas linhas em mente para falar de uma das paixões de minha vida: o Grêmio Recreativo Cultural, Social e Escola de Samba Unidos de Vila Maria.


Muita gente não entende isto, mas esses pavilhões da foto representam muito mais do apenas uma escola de samba; representam a vida, o suor e a alegria de muita gente que fez uma escola de samba fubanga e que não atraía o interesse de quase ninguém do bairro se tornar uma das escolas de samba mais prósperas e respeitadas de São Paulo, bem como fez com que a vida e alegria de um bairro inteiro girasse em volta dessa escola. Mesmo eu, que vivi toda a minha vida próximo da Vila Maria (a bem dizer, eu fui criado lá!) até o ano de 1998 eu não sabia que a Vila Maria tinha uma escola de samba; em um belo dia deste ano, brinquei com um grande amigo meu que deveríamos fundar uma escola de samba que se chamasse "Unidos da Vila Maria", no que esse amigo respondeu que essa escola de samba já existia, e que seu sobrinho fazia parte da harmonia da escola tocando cavaquinho; que ela já havia disputado o Grupo Especial por alguns anos (de 1969 a 1973, pra ser mais exato) e uma vez ficou em quarto lugar (posição que só se repetiu em 2005), mas que estava bem caída, no terceiro ou no quarto grupo das escolas de samba de São Paulo; que a escola não atraía o interesse do povo porque ela sempre tinha sido o local onde se reuniam os maus elementos e os consumidores de drogas do bairro (e que por esta razão, quase sempre acontecia alguma confusão nos ensaios da escola), enfim, que ali não era um ambiente familiar...


Neste ano a Vila Maria, depois de quase ter encerrado suas atividades, faturou o título do quarto grupo das escolas de samba; aí começaram a aparecer nas ruas, nos carros e nos estabelecimentos comerciais do bairro adesivos, bandeirolas e pessoas com camisetas da escola de samba; ficamos dois carnavais desfilando no terceiro grupo, para em 2000 faturarmos o vice-campeonato deste mesmo grupo e subirmos para o Grupo de Acesso no ano seguinte. No carnaval de 2001, havia uma intensa expectativa de que, depois de 15 anos longe do Grupo de Acesso, a Vila voltasse ao Grupo Especial depois de quase 30 anos longe dele. E não fomos traídos: neste ano faturamos o título do Acesso e voltamos ao Grupo Especial, onde estamos até hoje. E com um belíssimo samba, que todos os vilamarienses nunca esquecem, e do qual aqui reproduzo seus versos mais marcantes: "Com a minha bateria/eu vou/Verde e branco é alegria/amor/Vila Maria está no ar/Faz pulsar meu coração/E na avenida mostra sua tradição".


Me lembro bem que foi um sufoco convencer a minha avó a irmos juntos na Rua Kaneda (neste época, era nessa rua que havia um barracão aonde a escola guardava os instrumentos e algumas fantasias) na comemoração que estava sendo feita por causa deste título; também consegui convencê-la a me comprar uma camiseta bem simples da escola de samba (que não me serve mais há algum tempo, mas que tenho guardada comigo até hoje). E quando eu ouvi pela primeira vez de perto aquela bateria tocando, a paixão me pegou definitivamente...Ali mesmo não tive dúvidas que o G.R.C.S.E.S. Unidos de Vila Maria seria a minha escola de coração... Daí para a frente, a escola de samba voltou a ser incorporada ao bairro, bem como passou a ser um ambiente seguro e familiar.


No ano de nossa volta ao Grupo Especial, os ensaios eram realizados no estacionamento do antigo "Sacolão" (uma iniciativa frustrada dos tempos em que a Erundina foi prefeita de São Paulo, que criava mercados populares pra vender produtos hortifrutigranjeiros a preços subsidiados. Alguns desses sacolões prosperaram, mas o da Vila Maria foi logo abandonado; seu imponente prédio ficou anos subutilizado - hoje é um depósito de alimentos da prefeitura - e o enorme estacionamento virou área de lazer, onde por cerca de um ano a escola de samba fez seus ensaios), e como a entrada era franca, atraía muita gente, principalmente os moradores próximos do lugar. E claro que isso mais do que ajudou a escola de samba a se tornar um ambiente familiar. Algum tempo depois ganhou a sua atual quadra, ao lado do CDC Cecília Meirelles e quase na beira da Via Dutra. Hoje é preciso pagar para se assistir um ensaio na quadra, mas pelo menos sabemos que iremos nos divertir em um ambiente seguro, onde hoje famílias inteiras lotam o recinto em todos os ensaios e eventos ali realizados...


Neste período em que estamos no Grupo Especial, tivemos como glória principal o vice-campeonato em 2007; me lembro bem de quando o troféu chegou na quadra, e de como eu me vi refletido pulando e gritando em sua superfície prateada. Aquela alegria é algo que não esquecerei mais, assim como o desarranjo de que padeci logo após ter tomado chope em temperaturas vulcânicas. No ano seguinte, fizemos um desfile impecável sobre a imigração japonesa, e éramos apontados por todos como favoritos ao título. Mas ao término da apuração ficamos só em quarto lugar. Sinceramente falando, aquele dia foi o dia mais triste da minha vida.


Estava junto com vários vilamarienses acompanhando a apuração na quadra, e quando ficou evidente que havíamos perdido o título (faltavam ainda, salvo engano, uns três quesitos para serem julgados) um monte de gente começou a chorar por todos os cantos, tanto torcedores como membros da diretoria, da harmonia, da bateria, os casais de mestre-sala e porta-bandeira...Eu mesmo até hoje não entendo porque não chorei também (talvez pelo fato de que fui educado no mais tolo, retrógrado, persistente e injustificável de todos os preconceitos: que homem de verdade não chora) mas sei que foi algo muito triste e revoltante de se ver... A partir daí, perseguimos o título do carnaval, mas nem a qualidade dos desfiles e nem as colocações obtidas (talvez o terceiro lugar do ano passado seja uma exceção) conseguiram fazer melhor do que 2007 e 2008.


Eu acredito que ainda não ganhamos o título porque de certa forma os jurados que jugam o desfile são bastante tendenciosos e favorecem muito as escolas mais tradicionais (o acontecido na apuração deste ano ilustra muito bem isso). Pelo que acompanho do carnaval e dos desfiles das escolas de samba, não há escola que mereça ser campeã mais do que a Vila Maria. As que ultimamente ganharam os desfiles já estão (com exceção da Império de Casa Verde) entulhadas de títulos, e será indiferente um troféu a mais ou a menos para elas; mesmo que elas sejam vitoriosas, elas não tem conseguido fazer um desfile francamente superior ao da Vila Maria (o que tem sido também um empecilho pra se apurar um campeão do carnaval, uma vez que as escolas estão cada vez mais luxuosas e iguais entre si, não existindo um desfile que tenha sido francamente inferior ou até mesmo superior a outro. E isso dificultou muito a parada)...


De resto, é mais do que justo que a trajetória que em 15 anos nos tirou do quarto grupo e da quase extinção para o vice-campeonato do Grupo Especial, para 5 estandartes de ouro consecutivos como melhor bateria do Carnaval de são Paulo transformando-a em uma das escolas de samba mais respeitadas e prestigiadas da cidade seja coroada com um título do Grupo Especial... E é justamente isso que todos os vila-marienses desejam. Quando penso em tudo isso, sinto orgulho de toda esta história se relacionar com o bairro onde a bem dizer fui criado e passei alguns dos melhores momentos de minha vida, e muito embora eu ainda não tenha tido o privilégio de desfilar pela minha amada escola, frequente os ensaios numa frequência bem menor do que a que eu gostaria e não tenha ainda conseguido (em virtude dos compromissos) frequentar a escolinha da bateria para futuramente integrar este time vencedor de ritmistas, me sinto também parte dessa história de luta e de algumas vitórias...



segunda-feira, 6 de agosto de 2012

Em prol da revolução (repostagem)



Saudações a todos! Agora vou começar a postar um texto que eu recebi, já há alguns anos atrás, através da lista de discussões do curso de História da Unifesp, e que originalmente circulou em outra lista de discussões, a do Centro Estudantil de Santos, que se eu não me engano é a entidade estudantil mais antiga do país ainda em atividade; como eu não sei quem escreveu, eu vou agir como Millôr Fernandes, que diz:  "Na condição de leigo, não sou obrigado a citar minhas fontes". Eu havia postado isso aqui no blog quando eu comecei com ele, mas como achei que ninguém leria porque ficaria longo demais, eu pus o texto em partes; o tempo me mostrou que este proceder surtiu o efeito contrário ao desejado, uma vez que os posts não se reportam automaticamente um ao outro...


Como este texto é ainda bastante pertinente, sobretudo nesta época de crise para os lados das universidades federais, eu vou repostá-lo em versão única, pois ele contém tudo o que eu gostaria de dizer pra muita gente que se julga de vanguarda... Posso ser chamado de idealista, de reacionário, de reformista, de prático-utilitário, mas quanto a isto, só digo o seguinte: ACORDEM PRA VIDA, PORRA!!! E aí vai a texto:


Você sabe que é verdade. Caso contrário, por que todo mundo se incomoda quando você toca no assunto? Por que a presença das pessoas em seus encontros com o grupo de discussão anarco-comunista caiu tanto? Por que o proletariado oprimido não se conscientiza e junta-se a você na sua luta pela libertação mundial?


Talvez, após anos de lutas para educá-lo a sua condição de vítimas você os culpe. Provavelmente eles devam querer se enterrar sob a sola do sapato do imperialismo capitalista; caso contrário, por que eles não demonstram nenhum interesse diante da sua causa política? Por que eles ainda não se juntaram a você em manifestações contra a privatização das estatais, contando slogans em protestos cuidadosamente planejados e freqüentando livrarias de esquerda? Por que eles ainda não se sentaram e aprenderam toda a terminologia necessária para uma genuína compreensão das complexidades da teoria econômica marxista?


A verdade é que sua política é chata para eles porque ela é realmente irrelevante. Eles sabem que o seu antiquado estilo de protesto, suas marchas, faixas e encontros, são hoje em dia incapazes de causar mudanças reais porque se tornaram uma parte previsível do status quo. Eles sabem que seu jargão pós-marxista está desatualizado pois, na verdade, ele é apenas uma linguagem de mera disputa acadêmica, não uma arma capaz de enfraquecer os sistemas de controle.


Eles sabem que as lutas internas, os seus grupos divididos e as suas rixas a respeito de teorias efêmeras nunca poderão causar nenhuma mudança real no mundo que eles vivenciam no dia-a-dia. Eles sabem que não importa quem está na chefia, quais leis estão não livros ou sob qual "ismo" os intelectuais estão se curvando no momento, o conteúdo de suas vidas vai permanecer o mesmo. Eles e nós sabemos que o nosso aborrecimento é uma prova de que essa "política" não é a chave para qualquer transformação nas nossas vidas. Visto que nossas vidas já são chatas o suficiente sem isso.


E você sabe também. Para quantos de vocês a política é uma responsabilidade? Algo no qual você se engaja porque se sente no dever de se engajar, quando em seu coração há milhares de outras coisas que você poderia estar fazendo? O seu trabalho voluntário é seu passatempo favorito ou você o faz por um sentimento de obrigação? Por que você acha que é tão difícil motivar os outros a serem voluntários como você?


Poderia ser que isso, acima de tudo, possa ser um sentimento de culpa que o leva a cumprir o seu "dever" de ser politicamente ativo? Talvez você torne o seu "trabalho" mais interessante tentando (conscientemente ou não) arrumar problemas com as autoridades, ser preso: não apenas porque isso vai servir à sua causa, mas para tornar as coisas mais excitantes, para trazer de volta um pouco de romance dos tempos turbulentos do passado.


Por acaso você já se sentiu como se estivesse meramente participando de um ritual, numa recém estabelecida tradição de protesto consentindo, que serve apenas para fortalecer a posição da corrente dominante? Por acaso você já almejou escapar da estagnação e tédio das suas "responsabilidades" políticas?Não é surpresa nenhuma o fato de que ninguém se juntou a você nos seus esforços políticos. Talvez você diga a si mesmo que é um trabalho duro e sem reconhecimento, mas alguém tem que fazê-lo. Bem, a resposta é NÃO.


Na verdade você causa a todos nós um sério prejuízo com a sua política tediosa e cansativa. Pois, de fato, não há nada mais importante que política. Não a política da "democracia", da lei e de quem é eleito deputado para assinar os mesmo projetos de lei e perpetuar o mesmo sistema. Não a política anarquista do tipo "Eu me envolvi com a esquerda radical porque me divirto em fazer jogo de palavras com detalhes triviais e em escrever retoricamente sobre uma utopia inalcançável". Nem a política de qualquer ideologia ou líder que necessite que você faça sacrifícios pela causa. Mas sim a política da nossa vida cotidiana.


Quando você separa a política das experiências imediatas e cotidianas dos indivíduos, ela se torna completamente irrelevante. De fato ela se torna o domínio privado dos ricos e satisfeitos intelectuais, que podem desafiar a si próprios com tais coisas monótonas e teóricas. Quando você se envolve em política por um sentimento de obrigação e transforma sua ação política em uma responsabilidade maçante ao invés de um jogo excitante e vantajoso para a sua própria causa, você espanta as pessoas cujas vidas já são maçantes demais para ainda mais tédio.


Quando você faz da política algo sem vida e infeliz, uma responsabilidade amedrontadora, ela se torna apenas um outro peso sobre as pessoas ao invés de ser o meio delas se livrarem desse peso. Além disso, você arruina a idéia de política para aqueles os quais ela deveria ser mais importante. Pois todos, considerando suas próprias vidas, possuem dúvidas sobre o que realmente querem para si e como podem conseguir isso. Mas você faz a política parece para eles como um jogo miserável, auto-referencial e sem graça, da classe média "boêmia" - um jogo sem relevância para a vida real que eles vivem.


O que deveria ser político? Que tenhamos diversão com as coisas que fazemos para conseguir a casa e comida. Que sintamos as nossas interações diárias com os nossos amigos, vizinhos e colaboradores como algo satisfatório. Que tenhamos a oportunidade de viver cada dia do jeito que desejarmos. E a "política" não deveria consistir em meramente discutir essas questões, mas em agir diretamente para melhorar as nossas vidas do presente imediato. Agindo de um jeito que seja ele mesmo excitante e alegre - porque a ação política que é tediosa, cansativa e opressiva pode apenas perpetuar o tédio, a fadiga e a opressão em nossas vidas.


Não se deve mais perder tempo debatendo temas irrelevantes quando nós teremos que ir trabalhar de novo no dia seguinte. Chega de manifestações previsíveis que as autoridades sabem muito bem como lidar; chega de protesto rituais maçantes que não sejam um modo emocionante de gastar uma tarde de Sábado. Essa enfadonhas manifestações claramente não nos levarão a lugar nenhum. Nunca mais devemos "nos sacrificar pela causa". Porque nós mesmos, a felicidade em nossas próprias vidas e na vida de nossos companheiros deve ser a nossa causa!


Depois que fizermos da política algo relevante e excitante o resto vem junto. Mas de uma monótona e meramente teórica e ritualizada política, nada de valor pode surgir. Isso não significa que não deveríamos demonstrar nenhum interesse no bem estar de humanos, animais e ecossistemas que não temos contatos diretamente em nosso dia-a-dia. Mas a base da nossa política deve ser concreta: deve ser imediata, deve estar evidente para todos o porquê dela e valer a pena, deve ser divertida por si própria. Como nós podemos fazer coisas positivas para os outros se nem ao menos temos prazer com nossas próprias vidas?


Para dar um exemplo de como isso é possível: um boa ação política seria passar uma tarde coletando alimentos de empresas que os jogariam fora, servindo-os para pessoas famintas e para as que estão cansadas de trabalhar. Mas apenas se essa ação lhe der prazer. Se fizer isso com seus amigos, se fizer novas amizades, se você se apaixona ou troca histórias engraçadas ou se sente orgulhoso de ter ajudado uma mulher a diminuir as suas necessidades financeiras, essa é uma ação política. Por outro lado, se você passa a sua tarde inteira digitando uma carta furiosa para um obscuro jornal de esquerda contestando um colunista pelo fato de ele ter usado o termo "anarco-sindicalista", isso não faz você conseguir merda nenhuma e você sabe disso.


Talvez seja a hora de uma nova palavra para se definir "política", já que você transformou a velha num "palavrão". Para que ninguém saia da sala quando nós começarmos a falar sobre como agir conjuntamente para melhorar as nossas vidas. Então, nós apresentamos aqui nossas exigências, que não são negociáveis, e que devem ser atendidas tão logo for possível - porque nós não vamos viver para sempre, não é mesmo?


1.Faça novamente a política relevante para o seu dia-a-dia. Quanto mais distante estiver o objeto do nosso interesse político, menos ele significará para nós; e quanto menos real e urgente ele parece, mais monótono e aborrecedor ele será.


2.Toda a atividade política deve ser alegre e excitante por si própria. Você não pode escapar da monotonia com mais monotonia.


3.Para realizar os dois primeiros passos, devem ser criados métodos e propostas políticas inteiramente novas. As velhas estão antiquadas e obsoletas. Talvez elas nunca foram nada aproveitáveis e é por isso que o nosso mundo está desse jeito hoje em dia.


4.Se divirtam! Não há nenhuma desculpa para estar aborrecido!


Junte-se a nós para fazer da "revolução" um jogo em que o que está em disputa é o maior prêmio de todos, e que sem dúvida é um jogo divertido e feliz.