terça-feira, 25 de março de 2014

G.R.B.C. Bohêmios do Irajá - 1971


01. Vem pros Bohêmios; 02. Confesso; 03. Não adianta; 04. Eu sou mesmo da orgia; 05. Show de bateria; 06. Nêga, nem vem; 07. Vai tristeza; 08. Modo de pensar; 09. Conselho; 10. Grande desilusão; 11. Bateria.
 
 
Saudações à todos! Vamos para a primeira resenha musical do ano, que demorou tanto pois já não estou mais com tanta energia pra manter esse blog que está cada vez menos visitado, e num momento que eu descubro que TODOS os links musicais dos posts antigos (aqueles que eu não usei o YouTube na amostra musical) expiraram, e eu tenho que renovar tudo outra vez, botando música por música no meu canal do YouTube. Mas só vou fazer isso quando tiver pique para tal, e isso vai demorar um bom tempo.
 
 
Por ora, fiquemos com a resenha deste disco raro que é um dos mais belos que ouvi recentemente: o do bloco carnavalesco dos Boêmios (na época em que o bloco foi fundado, nos anos 50, ainda se grafava "Bohêmios", e esta denominação, com esta grafia, ainda se encontra no estandarte do bloco) de Irajá, famoso bloco carnavalesco do Rio de Janeiro; em sua juventude, Zeca Pagodinho, nascido e criado em Irajá, foi assíduo frequentador deste bloco, e um dos mais belos e contagiantes (em minha modesta opinião) sambas que ele gravou, "Boêmio Feliz", é uma homenagem aos Boêmios de Irajá, que aliás foi a faixa-título de um dos seus (mais belos) discos.
 
 
O bloco teve ainda outras personalidades como Bebeto di São João e Beto Sem Braço, mas o disco tem ainda outra particularidade: sem dúvida é fruto de uma prática muito corriqueira da indústria fonográfica nos anos 60 e 70: o de lançar discos com sambas das alas de compositores das principais escolas de samba e blocos carnavalescos do Rio de Janeiro. Foi através desse meio que muitos bambas da Portela, do Império Serrano, do Salgueiro e da Mangueira puderam ter suas composições gravadas, e entre os blocos tivemos vários LPs do Bafo da Onça (esses são especialmente raros, pois foram gravados pela lendária Rozenbilt), do Cacique de Ramos (tenho quase todos os que lançaram; um dia os resenho aqui) e até dos Canários das Laranjeiras (que chegou a se arriscar como escola de samba por alguns anos, mas não foi muito longe); para uma escola de samba ou bloco carnavalesco, chegar a ter um disco próprio era a suprema glória.
 
 
Pena que aqui em São Paulo não tivemos este mesmo frenesi; tivemos uma gravação com sambas antigos da Unidos do Peruche, e pelo menos três festivais de samba de quadra (tenho os LPs dos dois primeiros, e o meu Santo Graal musical sem dúvida é o LP do terceiro, que soube que existe por conta de uma reportagem que foi veiculada na TV sobre o acervo de um cara apaixonado por carnaval paulista, mas nunca encontrei em lugar algum). Fora isso, até onde eu possa saber, só as gravações anuais de samba-enredo(o desfile das escolas de samba de São Paulo só foi oficializado pelo poder público em 1968; houve uma gravação de sambas-enredo no ano seguinte, para só haver de novo em 1972, por conta dos 150 anos da independência do Brasil. Mas só a partir de 1976 é que passaram a lançar em todos os carnavais discos com o samba-enredo das escolas de São Paulo) e um CD com sambas da velha guarda da Camisa Verde e Branco. Sem dúvida, as escolas daqui possuem em suas alas de compositores verdadeiros tesouros à espera de quem os grave; as próprias escolas e o samba paulista muito iriam lucrar, tanto culturalmente como financeiramente, com isso.
 
 
Pois senão, não podem se chamar de "escolas de samba", não é mesmo??? Mas, voltando ao disco em si, de fato é uma peça absolutamente impecável do começo ao fim, e oxalá que se produzam mais discos iguais, com esse mesmo sentimento e com a mesma alegria que só o samba tem. E vamos a audição de costume, que as palavras já nos fogem, e a brevidade é (excessivamente) apreciada hoje em dia. Até a próxima!


Para ouvir a faixa 04, "Eu sou mesmo da orgia", e só dar o play nesse vídeo aí embaixo, manol@!

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