terça-feira, 24 de agosto de 2010

O que é remar contra a maré, ser excêntrico ou simplesmente esquisitão...

Esse aí é o time do XV de Jaú, em sua penúltima partida oficial, onde perdeu em casa pro Noroeste de Bauru por 1 a 0, no dia 14 de agosto. Infelizmente, um dos mais tradicionais times do interior hoje está meio ruinzinho das pernas... Mas logo vai melhorar, se Deus quiser!




A breja do glorioso Galo da Comarca!



Saudações a todos! Eu não podia deixar de falar de um assunto que interessa muito a nós, que é o futebol. E se eu vou falar de futebol, é claro que eu vou falar do meu time, o glorioso E.C. XV de Novembro de Jaú.Mas porque torcer pra esse time, numa terra em que muita gente nem sabe que existe um time com esse nome? Pra começar, eu poderia dizer que o XV de Jaú está indissoluvelmente ligado à história de minha família. Além de toda a família de meu pai ser de lá, há fatos curiosos que envolvem o Galo da Comarca e a minha família. Senão, vejamos:








Meus avós, quando começaram a namorar, tinham entre seus passatempos sair de jardineira da fazenda onde viviam e ir assistir os jogos no antigo estádio do XV de Jaú, e assim puderam ver os primeiros jogos do Galo na primeira divisão do Campeonato Paulista. Enquanto o germe de minha família estava se formando, a história de um dos mais tradicionais times de São Paulo acontecia diante de seus olhos.Em segundo, minha avó chegou a trabalhar na fábrica de refrigerantes que hoje patrocina o XV, numa época em que muitas fábricas (mais notadamente as têxteis e as alimentícias) admitiam o trabalho infantil, apesar de este já ser proibido por lei.








Pois naqueles tempos se considerava que as crianças não deviam ficar ociosas, e uma das formas de evitar o ócio infantil era fazer com que as crianças tivessem uma ocupação que rendesse alguns trocados miúdos, seja aprendendo algum ofício (como o de alfaiate e o de sapateiro, por exemplo; meu pai até hoje conserta as roupas da família porque minha avó pôs ele junto de um alfaiate), fazendo pequenos serviços para gente conhecida (como fazer "carreto" nas feiras, ou servir de moleque de recados, por exemplo) ou até mesmo fazer serviços simples dentro das fábricas. No caso em questão, minha avó diz que ela e outras crianças botavam rolhas de cortiça nas garrafas de refrigerante...








O que parece ser bem risível (pelo menos todos para quem eu contei este fato se racharam de rir), mas a minha santa avozinha, mais do que ser apenas a mãe de meu pai, é uma entidade sacrossanta intocável acima do bem e do mal (como todas as boas avós); por esta razão, cumpre-me dar crédito às suas espantosas revelações. E, por último, meu avô (o violeiro de quem eu falei em postagem anterior) chegou a cantar junto com seu irmão por duas vezes na Rádio Jauense, que hoje transmite os jogos do XV de Jaú para o mundo via internet (praticamente é a única forma de acompanhar os jogos para quem mora a 300 quilômetros de Jaú. As vezes a Rede Vida, que só mostra esses jogos perdidos do interior de São Paulo, transmite alguma partida). Enfim, eu creio que já dei provas suficientes, não?








Mas vou confessar que essa paixão é bem recente, começou no ano passado, depois de eu ter visto um vídeo onde o XV de Jaú goleava o Corinthians por 3 a 0, no Campeonato Paulista de 1977, o mesmo em que o Corinthians saiu daquela longa fila de títulos. Eu não sei o que houve de mais especial neste jogo: se o fato de o XV estar usando um uniforme parecido com o da Seleção Brasileira, se foi pelo placar relativamente elástico ou se foi porque esse jogo até hoje é o recorde de público do atual estádio do Galo da Comarca: 24 mil pessoas, mais ou menos. Ou ainda pode ser porque este jogo enganou muitos apostadores da Loteria Esportiva (isto é mera suposição minha), no tempo em que a Loteria Esportiva valia alguma coisa.








O que eu sei é que este singelo jogo até hoje é mais comentado do que os dois Paulistas da segunda divisão que o XV ganhou (até hoje os únicos títulos profissionais da equipe), ou do que as duas vezes que a equipe jogou o Campeonato Brasileiro. Todos que eu já ouvi um dia falarem alguma coisa do XV falam desse jogo... Pois bem, hoje em dia é uma dificuldade se torcer para um time que segue o mesmo rumo de muitos times do interior: já teve o seu lugar no sol junto dos grandes clubes, mas hoje luta com todas as forças para não acabar. O problema é que o XV de Jaú e muitos outros times pegaram uma época em que bastava a paixão clubística ou a boa-vontade de um único patrono mecenas pra se manter um time no profissionalismo.








Hoje em dia, sem muito dinheiro e sem um rígido planejamento empresarial nenhum time vai pra frente... Talvez algumas pessoas pensaram que aquele período romântico que era uma mistura da paixão clubística varzeana com o profissionalismo nunca ia acabar, mas quando o dinheiro entrou de vez na jogada, muitos times de tradição viram sua ruína. A maioria dos times pequenos monta as pressas uma equipe pra jogar um campeonato, e tão logo o campeonato termina, manda todos os jogadores embora, isso quando consegue pagar os salários de todo mundo.








Ou as vezes entrega a algum empresário a administração das categorias de base, onde a equipe só entra com a camisa e o estádio. Quando o contrato acaba, o dinheiro e os jogadores vão embora, e se porventura aparecer um cara bom de bola, o empresário vende ele e o clube não ganha um real sequer. Não existe um projeto para formação de jogadores que possam futuramente integrar a equipe. Enfim, estes e outros problemas colocam os times menores num fosso intransponível em relação as equipes maiores. No caso do XV, o time está começando agora a se reerguer financeiramente, mas parece que o atraso em relação a outras equipes anda vai demorar pra ser superado.








Eis que nós temos o desejo de escapar da mesmice. O Brasil tem milhares de equipes profissionais, porque nós só temos o direito de torcer por no máximo 30 ou 40 delas?, ou se torcermos por um time pequeno (geralmente o time da cidade ou do bairro em que moramos) ele deve ficar como segundo time, e um time grande deve obrigatoriamente ser nossa paixão? Só porque as emissoras de TV e suas patrocinadoras estão mandando? Torcer por um time enquanto ele está por cima, só ganhando, é muito fácil; no país do futebol, os bons jogadores e os craques surgem a toda hora, arrastando consigo o habitual séquito de fãs para si e para suas equipes. Como diria meu irmão, isso não é amor, é fogo no rabo.








Agora, torcer para um time que teve seu momentos de glória, mas hoje mais se fode do que se dá bem, ir no estádio e voltar completamente queimado de sol ou empapado de chuva até os ossos, comemorar com euforia cada vitória e até mesmo cada gol do time, é muito difícil, talvez até impossível. Mas é amor verdadeiro. Neste ano, numa partida em que o XV ganhou da Itapirense por 3 a 1 e se classificou para a segunda fase da terceira divisão do Campeonato Paulista, e eu estava acompanhando via web pela Rádio Jauense, quando o Galo fez o primeiro gol eu dei um grito arrancado do fundo de minha alma, de tal forma que todos pensaram que eu estava louco, ou que tinha visto uma ratazana entrar dentro de casa. Ninguem imaginaria que em plena manhã de domingo, dia das mães, haveria um jogo de futebol, ainda mais um jogo do XV de Jaú.








E na partida contra a Ferroviária, no começo da segunda fase? O jogo estava sendo transmitido pela Rede Vida, e o XV acabou perdendo em casa de goleada, mas até um pedaço do segundo tempo estava empatando o jogo depois de sair perdendo por 2 a 0, e estava perseguindo a virada. Eu consegui acordar a casa inteira com meus gritos de incentivo ao Galo (na noite anterior, todos voltaram de uma festa que terminou pelas altas horas da madrugada; não os acompanhei em virtude das minhas obrigações de terreiro), o que serviu somente pra deixar os ânimos mais exaltados, pois o XV de Jaú perdeu esse jogo por 5 a 2, graças a algumas falhas do goleiro. Aliás, não ganhou uma partida sequer na segunda fase, e por isso perdeu a chance de subir para a segunda divisão do Campeonato Paulista.






Por esta razão, meus senhores, devemos seguir a voz de nosso coração. Que pecado há em amarmos uma mulher feia, se nós a considerarmos bonita, ela sempre é solicita e faz de tudo pra nos agradar? Ou talvez nosso amor seja o mesmo que uma mulher tem por seu marido alcóolatra: a cada dia parece que o sujeito vai se afogar de vez no álcool pra não se levantar mais, mas a mulher que o ama jamais perde a esperança e pede com fé a Deus e aos orixás que ele largue a bebida e se torne um bom esposo.... E assim vai tocando a vida...