domingo, 18 de novembro de 2012

Raça Brasileira - 1985



01. Raça Brasileira; 02. Leilão; 03. Maravilhas do amor; 04. Feirinha da Pavuna; 05. Mal de amor; 06. Santa paciência/Bamba de berço; 07. Garrafeiro; 08. Pingueira; 09. Ingrata paixão; 10. Pomba rolou; 11. A vaca; 12. Pedra no caminho/Bagaço da laranja.


Saudações a todos! Finalmente venci a preguiça e farei uma resenha (coisa de leigo, vocês já sabem) sobre um dos mais famosos "pau de sebo" da música nacional... Pra quem não sabe, "pau de sebo'' é uma gíria da indústria fonográfica, que designa nada mais, nada menos do que uma espécie de coletânea onde se lançam vários artistas iniciantes (com cada um cantando em uma ou duas faixas, geralmente), a título de teste de popularidade. O apelido vem de uma série de coletâneas de músicas de festa junina (nordestina, principalmente) que a CBS lançou durante alguns anos (15 volumes, entre 1967 e 1981), e que tinha o nome de "Pau de Sebo", daí esta gíria designar o tipo de disco que eu citei...


E alguns desses "paus de sebo" ficaram muito famosos, e deram origens a outros volumes... Temos, por exemplo, os três discos do "Roda de Samba" lançados pela CID, e este LP que ora resenho teve ainda duas continuações (que nem de longe chegaram na originalidade e na qualidade deste), e teve o mérito de revelar ao grande público dois grandes nomes do samba: Zeca Pagodinho e Jovelina Pérola Negra. É bem verdade que ainda participaram do LP Mauro Diniz (filho de um dos maiores - se não o maior - sambista vivo da Portela, Monarco, e compositor de vários sucessos de Zeca Pagodinho), Pedrinho da Flor (lançou uns dois ou três LPs solo, ainda é um grande compositor e foi durante alguns anos intérprete do Império Serrano) e Eliane Machado (lançou ainda uns dois LPs solo bonzinhos e depois sumiu, o que foi uma pena), mas foram Zeca e Jovelina que realmente fizeram sucesso... Podemos até dizer que o pagode nasceu com este disco (já haviam grupos como o Fundo de Quintal, Almir Guineto e Jorge Aragão já haviam começado a sua carreira solo com relativo sucesso e o Zeca já tinha composições suas gravadas por outros intérpretes, mas podemos dizer que o pagode, e por extensão o samba, foi jogado durante alguns anos na ponta do mainstream a partir deste disco).


E justamente pelo fato de ter colocado em evidência dois dos maiores ícones da geração que não só nos ensinou a gostar de samba, mas que revolucionou o ritmo nacional (ao introduzir novos instrumentos na sua base, e lhe dar um andamento mais rápido e alegre). A partir deste disco, o samba foi novamente alçado às paradas de sucesso; sob a batuta da RGE, bons discos do gênero foram produzidos, e vários nomes puderam chegar ao disco (pena que nem todos se firmaram). E por incrível que pareça, esta geração é criticada até hoje por muitos puristas: é difícil falar sobre isso, mas o samba tem inúmeros preconceitos exclusivistas, sobretudo quando cria a figura do "bamba" e quando concentra seus instintos puristas em quatro ou cinco artistas tidos como "mestres"; se você não tem a sorte de ser um "bamba" ou veio depois dos mestres, você não é bem-vindo para os puristas, ainda que essa geração tão criticada por eles tenha sido e muito inspirada pelos antigos, sobretudo na divulgação da obra destes... E o Zeca Pagodinho ainda está ai na ativa (embora um pouco decadente), como nome mais popular do samba, embora a Jovelina tenha sido tão cedo retirada da presente vida por um infarto (aos 54 anos, em 1999). Pelo menos agora ela está versando em outros planos...


Enfim, é uma obra que, apesar de não ser genial, é bastante bonita e agradável de ser ouvida, principalmente por ser um marco na história do ritmo nacional que é o samba... E eu, que nasci no mesmo ano da obra, sinto-me orgulhoso em afirmar que nasci junto com o pagode...  E, como diz a faixa escolhida pra a degustação:


"Tira a viola do saco
E afina o cavaco 
Por favor
Que o samba é um remédio
Que cura o tédio
E o mal de amor"


Para ouvir a faixa 04, "Mal de amor", na interpretação de Mauro Diniz, clica no vídeo aí embaixo: