domingo, 28 de fevereiro de 2010

Afinal, Cuba é ou não é uma ditadura?

Saudações a todos! Eu estou agora transcrevendo um texto escrito por mim na comunidade do campus guarulhense da Universidade Federal de São Paulo no orkut, e que procurava responder a seguinte pergunta lançada em um debate: "Cuba é ou não uma ditadura?"


Pois bem, fazendo bom uso desse espírito de laicidade que me é nato, eu exprimi minha opinião na forma do que está escrito a seguir. E, é claro, para ir ao encontro da proposta principal deste blog, que é discutir sobre as coisas com a liberdade de um leigo. Assim sendo, eu tentei responder à questão da seguinte forma:


O que aconteceu e acontece em Cuba e outros países quejandos só nos mostra o seguinte: construir uma sociedade que consiga ser efetivamente soberana e que promova a justiça social é muito mais difícil do que Marx e seus "intérpretes autorizados" imaginavam.


Enquanto boa parte dos países do mundo não promove a justiça social simplesmente porque ou não conseguem sequer ter uma existência estável como nação independente, ou porque não há quase nada a se dividir com o povo para ser revertido em benefício deste, vemos um país que consegue sobreviver por 50 anos (ainda que aos trancos e barrancos) à um embargo econômico que mesmo uma nação desenvolvida talvez não aguentasse dois anos. Somente uma nação saudável e bem educada conseguiria tal proeza.


Mas é claro que as pessoas, quanto mais saudáveis e educadas elas são, o poder de entender e até mesmo de questionar a realidade em que elas vivem aumenta. Elas começam a se perguntar: "Se eu tenho um padrão de vida em que eu tenho uma segurança social boa, porque eu não posso comprar (por exemplo) uma televisão melhor do que a que eu tenho?"Ou esta: "Se eu tenho vontade de comer um doce ou até mesmo de limpar o meu cu com papel higiênico (o que, no caso é uma necessidade mais do que elementar), porque eu não posso ter um bombom pra saciar a minha sede de glicose e porque eu tenho que pegar uma fila enorme pra comprar o jornal do partido pra poder me limpar, enquanto os estrangeiros que vêm para cá podem ter acesso a tudo isso?" Ou ainda "Se a revolução é popular e nós somos o povo, porque não podemos decidir que rumos a revolução deve tomar, já que somos a força que sustenta a revolução?"E as perguntas não param por aí...


No começo, as pessoas até contemporizam com certas restrições, por entender que um processo de construção de uma nova sociedade naturalmente comporta certas dificuldades e sacrifícios a que nos devemos submeter. Mas conforme o tempo vai passando e a situação de aperto não muda, as pessoas evidentemente começam a questionar a situação.E daí surge a revolta. E, para que os anseios do povo sejam atendidos, só a retórica revolucionária e suas palavras de ordem não bastam.


Há um episódio da guerra de independência dos EUA que ilustra bem isso. Nos dois primeiros anos desta guerra, que durou de 1776 a 1781, os americanos estavam apanhando dos ingleses (a balança só pendeu para o lado dos americanos porque os franceses entraram na jogada); durante uma marcha do então esfarrapado exército americano, George Washington e outros oficiais (que nunca se arriscavam diretamente nas batalhas e nem passavam fome) tentavam animar a tropa grtando: "Liberdade!" "Liberdade!". Mas os soldados, que ja estavam famintos, exaustos e cansados de lutar, respondiam assim: "Comida!" "Comida!".


Pois bem, efetivamente é dificil dizer se Cuba é ou não uma ditadura, pois se ela é ou não uma ditadura, caberia ao seu povo decidir isso, e se for o caso, de alterar ou destruir esta ordem política. O que se pode dizer é que ela veio mostrar ao mundo que a revolução não é e não pode ser uma via de mão única. Que não cabe e jamais caberá a divisão maniqueísta entre direita (os malvados) e esquerda (os bonzinhos). Pois, como diria Marx (se eu não me engano na "Miséria da Filosofia"), mesmo os revolucionários têm que se renovar constantemente pra não se tornarem conservadores, pois a revolução é um desafio permanente, que jamais se esgota e exige constante renovação de objetivos, fazeres e idéias. O que certamente não estamos sequer preparados para fazer. Ainda...

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