domingo, 27 de setembro de 2009

Onibeijada (Cosme, Damião e Doum) - década de 70


01. Ogum Beira-Mar; 02. Clareia Umbanda; 03. Doum, Cosme e Damião; 04. Beijada; 05. Mamãe me deu caruru; 06 .Mariazinha; 07. Estrela Dalva Clareou; 08. Saquinho de balas; 09. Filho de fé; 10. Ele vem do mar; 11. Catarina; 12. Ibeijada; 13. Ele é pequenininho; 14. Ibeijada já vai embora;




Saudações a todos! Hoje, no dia em que louvamos Cosme e Damião (e toda a sua sagrada falange), eu não poderia de deixar de apresentar aos que passam por este blog, que ousadamente mantenho no ar há quase dois meses, um dos mais singelos discos umbandistas. E que, como vocês já puderam notar, é interamente dedicado a linha de Cosme e Damião.


Cosme e Damião são dois santos da Igreja que foram sincretizados na tradição afro-brasileira com os Ibejis, que na mitologia dos orixás são irmãos gêmeos que se não me engano nasceram do conluio entre Ogum e Iansã (que segundo a tradição tiveram, se não me falha novamente a memória, 12 filhos). E Doum (que é na imagem a figura que aparece no meio de Cosme e Damião e que está em tamanho menor - vide a capa do disco) é o irmão que nasceu logo depois dos Ibejis, e que, segundo a mitologia, é o protetor das crianças com menos de sete anos de vida.


E, na Umbanda, eles são chefes de uma linha de espíritos, a linha dos erês, ou simplesmente a linha das crianças. Os erês ou crianças são, grosso modo, espíritos de pessoas que morreram ainda crianças, e que por isso conservam a alegria, a pureza e a irreverência típicas da infância.



O que se pode notar quando eles baixam nos terreiros: os médiuns que são incorporados por esses espíritos usam bonés, chuquinhas, chupetas e mamadeiras, se servem de uma linguagem do tipo conhecido como tatibitati (que é o jeito como as crianças que ainda estão aprendendo a falar falam), gostam muito de brincar com seus brinquedos e de comer os mais variados tipos de doces, e gostam mais ainda de traquinar: ontem mesmo tomei um banhozinho de guaraná dado por um dos erês que estava presente na festa de Cosme que foi feita ontem no terreiro que frequento...



Mas, debaixo de tudo isto, se esconde o poder de uma linha de trabalho de elevada consideração dentro da Umbanda (a maioria das teologias umbandistas coloca esta linha entre as três fundamentais - as duas outras são a dos caboclos e a dos pretos velhos). Dizem até que trabalho feito por um erê, nem exu consegue desfazer, somente o erê que fez o trabalho. Por isso, numa gira de crianças, doces e guaraná não podem faltar, pois ninguém quer se ver vitima da zanga de um erê, pois a mão que dá o pão também pode jogar a pedra, meus caros...



Antes que algum umbandista fique indignado com o que vai no final do último parágrafo que escrevi, vou lancar minhas conisderações sobre o disco; é uma das obras mais singelas e inocentes (no bom sentido) da música umbandista, o que me faz entender que os que dele participaram (um tal de Ogan Tomé, acompanhado do Coral Vozes de Bronze) captaram bem a essência de uma louvação às crianças: sao cantados pontos bem simples acompanhados por um atabaque (não tenho certeza), um violão, um surdo e um cavaquinho. O único porém é que as faixas ficam um pouco cansativas de ouvir, pois os pontos são curtos e por isso no espaço da faixa se repetem uma certa dezena de vezes. Mas ainda assim é uma obra que vale a pena de se escutar e se deixar levar por sua simplicidade...
Me dêem licença pra pingar o colírio alucinógemo porque amanhã a luta pelo pão, pela sobrevivência e pela glória recomeça...
Para ouvir a faixa 03, "Doum, Cosme e Damião", clique no seguinte link:





Um comentário:

  1. Obrigado pelas informações sobre este álbum. Falta informação na internet sobre as gravações de pontos de umbanda, como: quem canta, quando foi gravado... Músico no Brasil em geral já é desrespeitado, se gravar alguma coisa de umbanda/candomblé sem já ter um nome firmado, então... Falta distribuição também, o que fomenta a pirataria e não beneficia novas gravações. Agradeço pelo seu post, foi útil para mim.

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