domingo, 20 de junho de 2010

A Brasileiríssima Cacilda de Assis Interpretada por Jorge Ogan - 1978

01. É o pino da hora grande; 02. Assim não dá; 03. Deusa da beleza; 04. Cabocla Jurema; 05.Manto de Iemanjá; 06. Oiê caninana; 07. Deusa do mar; 08. Xangô, deus do trovão; 09. Louvação a Nanã; 10. Iansã; 11. Papai Ogun; 12. Eu criei cobra.



Saudações a todos! Como eu já havia prometido em outra postagem, eu irei comentar este disco, que foi um dos três LPs que foram gravados na inspiração de Seu Sete da Lira...Eu tento não falar só de música, até pra não ficar chato e pra ver se eu consigo fazer com que mais gente veja e conheça o árduo trabalho deste blog, mas além do escasso número de leitores permanecer o mesmo, eu não consgo deixar de dar ouvidos ao que o meu coração manda, pois é ele que me governa... E, sendo assim, não conseguirei deixar de falar de música, até porque o meu sentimento pela música expressa muito bem o o espírito deste blog, que é falar de vários assuntos de meu agrado com a liberdade de um leigo.



Pois eu não entendo absolutamente nada de teoria musical, meus senhores, e sequer sei tocar qualquer instumento musical! Estou tentando aprender a tocar atabaque; a título de curiosidade, atabaque é um tambor cônico de madeira de origem árabe, no qual se estica em uma das bocas - a mais larga - um couro de boi, de bode ou de cabrito. A afinação desse instrumento é regulada ou por parafusos ligados à armação de metal que está prendendo o couro no tambor, ou por cordas presas ao couro. Ele pode ser tocado com as mãos, ou com varinhas de madeira chamadas aguidavis.



É um instrumento muito utlizado na capoeira e nos rituais religiosos de matriz afro-brasileira, como o candomblé e a umbanda (no caso dos rituais, o instrumento deve ser consagrado a determinado[s] orixá[s] e/ou entidade[s], num processo que praticamente equivale à reconfecção do instrumento. A partir desse processo, o som do tambor é o veículo de todo o trabalho espiritual dos terreiros; através do som dos atabaques conjugados às cantigas de fundamento, os orixás e demais entidades sagradas se manifestam, conduzem os trabalhos e retornam ao mundo espiritual).



Por esta e por outras razões, geralmente só pessoas iniciadas no culto podem tocar os tambores de um terreiro, sendo que esses iniciados comunente recebem o nome de "ogan" (no candomblé isso é mais forte, mas na umbanda é bastante comum que alguns terreiros, principalmente os que são abertos recentemente - mais comunente em dias de festa, mas as vezes em todos os trabalhos - paguem para ter um ogan que toque o atabaque. Esse pagamento pode ser em dinheiro e/ou em alguma bebida forte. Isso ainda acontece porque não existem muitas pessoas que tenham aptidão real para tocar um atabaque. Os que realmente sabem, cientes de sua habilidade, não ensinam de graça. E, claro, somente ensinam como executar os ritmos sagrados, não o fundamento que está por trás da função de um ogan, pois o fundamento é algo esotérico, só revelado aos iniciados na calada da noite e a luz de velas, meus caros!).



E eu estou tentando aprender o modo de tocar o atabaque no ritual de umbanda (existe uma sequencia de uns 22 ritmos sagrados, e na umbanda se usam mais ou menos uns 7 deles, e cada um geralmente tem variações). O mestre com o qual eu estou aprendendo toca o instrumento com incrível naturalidade, enquanto que nas minhas batidas é evidente a tensão de minhas mãos para não errar a sequência das batidas em cada toque, quando uma mão bate, a outra já fica tensa aguardando a vez de entrar. Além de tocar o instrumento, esse mestre também recebe algumas cantigas sagradas, o que é um dom mediúnico dos mais raros. Quem sabe um dia eu não consigo aprender a tocar atabaque de maneira mais decente??



Fora isso, meu conhecimento e meu gosto musical são mais subjetivos do que realmente fundamentados em uma teoria... Mas em compensação, um leigo jamais tem que revelar suas fontes... Como vocês podem ver, eu já fugi completamente do disco que vou comentar, mas esse é um costume meu: eu começo falando de uma coisa e vejo que há um gancho que não posso perder, e aí me distancio do assunto inicial... Mas é nesses ganchos que eu demonstro um pouco do meu "saber de ignorâncias feito" (na expressão de um grande escritor - leigos não citam fontes, senhores!).



Finalmente chegando ao disco, de todos os que foram feitos na inspiração de Seu Sete da Lira, este foge a regra: os dois anteriores foram gravados ao vivo no ritual de Seu Sete, e este é uma reunião de composições de D. Cacilda (mãe-de-santo que recebia Seu Sete da Lira; segundo pude apurar, ela faleceu há alguns meses atrás) para outras entidades, embora haja algumas faixas que façam referências ao Seu Sete. Ainda segundo soube, Jorge Ogan e os demais músicos que participam deste LP eram filhos-de-santo do terreiro de Seu Sete, nesta singela homenagem à Umbanda. É um disco bastante agradável de se ouvir, na minha opinião um dos melhores discos de Umbanda.



Porque em cada uma das faixas deste disco, se nota a inspiração de D. Cacilda ao compor as músicas (inspiração certamente dada por Seu Sete), a competência dos músicos que participam deste disco... E a interpretação de Jorge Ogan? Ah, meus senhores, é uma voz própria pra nos fazer entender e gravar em nossos corações o que é a Umbanda, com seus orixás e suas entidades sagradas, que nos fazem lembrar de algo que sempre esteve presente e atuante em nossas vidas, mas que não sabíamos nomear ou qualificar...



Resumidamente, é uma obra que nos mostra de maneira sucinta e alegre o ethos umbandista, nos provocando um sentimento de enorme alegria e orgulho de pertencermos a religião umbandista e de termos um dia adotado a ciência de Umbanda (como diria Seu Pena Verde, guia-chefe do terreiro em que fui [recentemente, através do batismo] iniciado na religião umbandista: "A Umbanda não é só uma religião, é também uma ciência!") como nossa filosofia de vida...






E vamos saravar o colírio alucinógeno, na vibração da cabocla Jurema!


Para ouvir a faixa 04, "Cabocla Jurema", é só clicar nesse link:

Um comentário:

  1. ADRIANO, parabéns!

    Tudo mt sensacional!!!

    Conheci a Sra. Mãe Cacilda e tive a oportunidade ímpar de consultar-me com o Sr Guardião 7 Rei da lira.

    Abrs do Mauro George

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