sábado, 27 de julho de 2013

Umas palavrinhas do que sei sobre feminismo

 
Essa foto já foi tirada há algum tempo, quando eu ainda estava com esse braço bom,
mas a idéia que ela traz ainda é válida...
 
 
Saudações a todos! Já tem algum tempo que eu estou tentando (e não estou conseguindo) escrever algo prestável sobre o feminismo, que pude conhecer melhor através de uma amiga que conheci pelas minhas andanças na web (de quem já compartilhei algumas coisas aqui); um dos fatores que retardou essa escrita foi a minha incurável preguiça, onde no meio do caminho sempre encontramos algo pra chamar a nossa atenção e nos distrair dos nossos objetivos iniciais. Outra foi o acidente que sofri (durante a última Virada Cultural em São Paulo, caí com o braço direito em cima de uma garrafa de cachaça que eu segurava, o que me valeu um punho quebrado, o nervo ulnar rompido com o corte da garrafa, cinco dias de internação na Santa Casa de São Paulo, uma longa cirurgia pra religar o nervo que se lesionou e a inutilização temporária do braço atingido. Estou melhor, mas ainda estou me recuperando)


Dito isto, vamos as explicações mais básicas do nosso tema. O feminismo, basicamente, é a idéia de que não devem existir quaisquer tipos de diferenças, preconceitos e distinções sociais que sejam motivados pelo gênero, ou seja, simplesmente pelo fato de alguém ter nascido "homem" ou "mulher" (vejam bem, eu coloquei estas duas palavras em aspas porque, entre outros pressupostos, o feminismo acredita que as definições de gênero vão muito além da definição biológica/genital de masculino e feminino, possuindo uma forte carga cultural). Portanto, a persistência destas diferenças, preconceitos e distinções (materializada em problemas como a violência doméstica, o assédio sexual, o estupro, o controle da sexualidade feminina, a divisão das atividades e gostos humanos por gêneros, etc) é vista dentro desta ótica revolucionária e libertadora não como algo justificado pela natureza, mas sim como uma opressão da mulher pelo homem, a qual damos o nome de machismo.


É claro que eu dei até agora uma definição bem sintética e básica (sintética e básica até o excesso, mas creio que está valendo) do que seria o feminismo; não desejo ser muito prolixo neste ponto, além de haver muita gente que já fez isso muito melhor do que eu... Intelectuais como Simone de Beauvoir e Naomi Wolf (as obras principais delas e de outras escritoras feministas estão disponíveis na web, é só digitar no Google "biblioteca feminista") deram as definições clássicas do tema, mas caso você esteja sem tempo ou com preguiça (que feio, mas acontece, não?) de ler os clássicos, o movimento feminista é tão didático que há pessoas mantendo blogs onde se abordam os temas do movimento de tal forma que uma passada por eles já faz você criar as primeiras noções sólidas no assunto: o Feminista Cansada, o Escreva Lola Escreva, o Blogueiras Feministas, entre vários outros (há vários outros que de momento não me recordo, mas creio que esses são os principais, e neles há links para outros tão bons quanto, mas não tão famosos).


E pra você que está pensando que o feminismo é um movimento que APENAS diz respeito à mulher, deixe-me dizer que você está redondamente enganado. Além de questionar e combater todas as situações que se mostram opressoras para a mulher, o feminismo também discute sobre os papéis de gênero. Quem disse que o homem tem que ser agressivo, calculista e mulherengo porque "isso faz parte de sua natureza"??? Quem disse que ele só pode chorar se sofrer uma grande perda (morte de parentes próximos ou de amigos, por exemplo)??? Quem disse que o valor de um homem é medido pelo número de parceiras amorosas/sexuais que ele tem ao longo de sua vida??? Que ele não deve ter nenhuma peça de roupa ou acessório na cor rosa??? Que não cabem também à ele todos os afazeres relacionados à limpeza e a manutenção do lugar onde  ele vive??? Como podemos ver, o machismo é tão odioso e nojento que não se contenta em oprimir a mulher, quer também moldar o comportamento do homem pra poder se perpetuar...


E para o homem que não se adequa a esse fluxograma, ou que se desvia um único milímetro dele, restam severas reprimendas de sua família, a gozação dos colegas (muitas vezes seguidas de bullying), enfim, todo o tratamento de luxo que a sociedade reserva aos seus desajustados. E isso eu pude perceber bem ao longo de minha vida... Por exemplo, hoje eu tenho um bloqueio sério quanto ao choro; eu já falei que sou tão emotivo que sinto vontade de chorar até com final de blockbuster-românticuzinho-mela-cueca, mas nesta e em outras situações meu choro se reprime instantaneamente, como se algo dissesse que meu pranto não é valido, ou é exagerado e impróprio para a ocasião (de fato, se contam nos dedos de uma única mão as vezes em que vi, por exemplo, meu pai chorar). Disso resultou que eu fiquei vários anos sem conseguir chorar genuinamente por nada, embora motivos e vontade não tenham faltado...


E quanto a pressão, ora implícita, ora explicita para termos uma vida amorosa e sexual ativa já na adolescência??? Nem vou falar aqui de quanto sofremos à toa por causa disso... Outra séria dificuldade (e aqui faço um mea culpa em rede mundial) é assumirmos de fato às obrigações referentes à limpeza e a manutenção de um lar, que como sabemos devem estar ao encargo de todos os seus habitantes não inválidos. Não que eu não saiba como fazer as coisas; até tive que aprender a fazer todos os afazeres domésticos em virtude de algumas vezes em que minha mãe ficou incapacitada por períodos relativamente longos (quando eu tinha 12 anos, minha mãe quebrou o braço esquerdo num tombo na rua; aos meus 16, minha mãe caiu de uma escada e quebrou a perna e aos meus 19 ela se submeteu à uma cirurgia pra extrair cistos em um dos ovários), ou em virtude de ocasiões em que me prometeram algum benefício ou me ameaçaram com algum castigo, mas esta preguiça que me é inata, somada ao tamanho de minha casa, me tem impedido de desempenhar das coisas da maneira que se poderia considerar como desejável...


Sei que esta fala não é muito abonadora, mas é um exemplo claro de quanto se desvencilhar por completo das práticas machistas é algo mais difícil do que podemos imaginar; no discurso, é muito legal, mas quão difícil o é na prática! Enquanto escrevemos um texto inflamado nas redes sociais condenando, por exemplo, as cantadas de rua, o espírito da desídia nos arrebata quanto a louça que se acumula na pia, ou o chão que só falta criar vida e implorar pra ser varrido. Nos tempos de hoje, ainda tenho um álibi, pois a minha mão direita não tem firmeza pra quase nada (por conta do acidente), mas e quando as coisas se normalizarem???


Poderia citar muitos outros exemplos particulares de vezes em que fomos reprimidos por conta de fugirmos dos papéis que a sociedade  acredita que o homem deve exercer, e de quanto isto foi maléfico para o nosso desenvolvimento intelectual, emocional e moral. Mas certamente isto não chega a ser uma infinitesimal fração de tudo que uma mulher tem que passar diariamente nesta e em outras sociedades apenas pelo fato de ter nascido como tal. Eu ainda gostaria de me prolongar mais sobre o assunto, mas já estou há tempo demais escrevendo sobre ele. Os prolegômenos, então, ficam para outras postagens...


Termino então com estes vídeos, que são parte de uma campanha de combate ao machismo promovida pelo governo do Equador. Quando este país promulgou sua nova Constituição, no ano de 2008, adotou-se o combate ao machismo como política de Estado. Além desta campanha, muitas outras medidas foram tomadas neste sentido pelo governo desta nação, que se tornou uma das nações pioneiras em assumir declaradamente uma posição neste sentido (a primazia cabe à Burkina Faso revolucionária de Thomas Sankara nos anos 80, é sempre bom lembrar!). Se o Equador, que não chega a ser um país miserável mas está bem longe de ser um país rico (não está mesmo entre as 60 maiores economias do mundo, e seu índice de desenvolvimento humano não está nem entre os 100 primeiros da lista - se não me engano não está até entre os países com índice de desenvolvimento humano considerado "alto") pôde se dedicar a estas iniciativas, porque o nosso Brasil, que está muito à frente do Equador em termos de desenvolvimento econômico e social, não pode sequer pensar em fazer o mesmo???

Reflitam, meus irmãos! 

 

 
 

 
 

 
 

 
 


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