quinta-feira, 6 de setembro de 2012

Paulo Tapajós - Catulo, o Poeta do Sertão - 1957


01. Vai, ó meu amor, ao campo santo; 02. Sertaneja; 03. Clélia; 04. Um poeta do sertão; 05. O meu ideal; 06. Tu passaste por este jardim; 07. Talento e formosura; 08. Os olhos dela; 09. Rasga o coração; 10. Recorda-te de mim; 11. Templo ideal; 12. Palma de martírio.


Saudações a todos! Vamos desta vez retornar a crítica musical mequetrefe, comentando este velho LP, de composições de Catulo da Paixão Cearense, poeta muito famoso que teve seu auge nos anos finais do século 19 e nas primeiras décadas do século 20. E de quem já se disse certa vez que talvez tenha sido o único poeta do mundo coroado com todas as glórias típicas de seu mister enquanto foi vivo (viveu de 1863 a 1946); via de regra, a poesia ganha mais valor com a morte dos seus cultores; grande parte dos aclamados poetas (não todos, pelo amor de Deus!) quase não foram reconhecidos e/ou lidos em vida.


Mias propriamente falando, a fama de Catulo se deu por ele ter alçado o violão ( mais notadamente a modinha e a seresta com este instrumento; por muito tempo, o violão foi considerado um instrumento pouco nobre e carregado de estigmas sociais, e Catulo teria sido um dos primeiros a derrubar esta fama, sendo requisitado e bajulado por figurões da sociedade de seu tempo) a um patamar mais alto no conceito musical daquele tempo, bem como pelo primor de suas composições, onde tanto se podem notar construções de linguagem altamente exóticas (cousa muito em voga no seu tempo com a escola dita "parnasiana") como o uso da temática e do modo de falar regional (como podemos notar, entre outras, nas músicas "Luar do sertão" e "Cabôca de Caxangá"). Ou, como diria alguém, "[que] usou e abusou de toda a sonoridade que o sotaque nordestino [ele era maranhense de nascimento, e viveu parte de sua infância no sertão do Ceará] lhe proporcionou, soube colocar em versos simples onde era o lugar de por versos simples. Tinha faro. Sabia ouvir, como ninguém mais, o rumor da terra"


Pois bem, o que eu aprecio em sua música, e na música de muitos de seus contemporâneos, é a capacidade que eles tinham de colocar na música acentos poéticos parnasianos, cheios de construções de linguagem hoje em desuso (mas que não foram completamente extintas da língua portuguesa; em que lugares mais eu poderia escutar em música expressões como "álgida saudade", "seios alabastrinos", "lira austera", "momento evanizado", "lábios pulcros"??? Posso dizer que aumentei e muito meu vocabulário somente ouvindo música dos tempos de dantes; havia um programa na Radio Cultura AM de São Paulo, que era transmitido todas as noites, e que era inteiramente voltado a música dos anos 20 aos anos 50; este programa deixou de ser diário e passou a ser semanal - agora é transmitido nas manhãs de domingo, mas enquanto foi diário eu e meu irmão o escutávamos assiduamente, e chegamos a gravar várias fitas cassete com as músicas mais agradáveis das que eram veiculadas; muito da minha cultura musical vem desta atitude)


E mais: tenho a impressão de que em outros tempos a música brasileira era mais poética e mais cheia de beleza e sentimento do que hoje; os artistas e cantores compunham e cantavam com outro estado de ânimo: com o coração, como muitos gostariam de dizer (tanto que boa parte desta gente morreu de infarto, como diria um amigo piadista. Os que não enfartaram foram consuimidos pela tuberculose ou pela cirrose hepática, daí ele ter dito que ninguém morreu de amor, mas sim desta moléstia infecciosa que matou - e ainda mata - gente a rodo nos séculos 19 e 20)


Mas basta de churumelas, meu povo! Este disco tem o mérito de resgatar composições então esquecidas de um grande bardo, levando-as ao conhecimento das gerações vindouras, na bela interpretação de Paulo Tapajós. Oxalá um dia os músicos, cantores e compsitores dos tempos atuais resgatem essa poesia e este sentimento que estranhamente parece ter deasaparecido da música!


Para ouvir a faixa 08, "Os olhos dela, é só clicar no vídeo aí embaixo:

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