domingo, 24 de março de 2013

No pior dos dias, ou sobre o ideal que não morre

Eis o elenco desse ano (mais tarde ainda chegaram outros jogadores, como o Tuta), apontado por muitos como a pior equipe que já defendeu as cores grená e branco...



Eis o elenco com o qual conquistamos a Taça de Prata (atual Série B do Brasileiro) em 1983. Sim, seus futebolistas de Playstation, o Juventus da Mooca já foi campeão brasileiro um dia!



Este sábado, dia 23 de março de 2013, foi o pior dia da história do Clube Atlético Juventus. Ao perder em casa por 3 a 1 para o Guaratinguetá, a equipe foi rebaixada para a terceira divisão do Campeonato Paulista, pela segunda vez em sua história. Depois de ter conquistado de forma heróica a volta para a segunda divisão  do Paulista no ano passado, a diretoria do clube fez um péssimo planejamento: tivemos quatro técnicos diferentes no decorrer deste ano, dois dos quais não ficaram mais do que três jogos comandando a equipe; além disso, apostamos na contratação do Tuta (sim, aquele mesmo que jogou no Palmeiras e no Fluminense), que no alto dos seus 40 anos revelou-se um peso morto na equipe.


E, o pior de tudo, ao invés de tratarmos de arranjar jogadores que pudessem efetivamente integrar a equipe, ficamos ventilando a hipótese da construção de um novo estádio, a "Arena Juventus", cousa das mais tresloucadas: não há espaço disponível para ampliarmos nosso atual estádio, que está espremido entre a Rua Javari, a Rua dos Trilhos e as casas dos "nonnos", ainda mais em um lugar que está altamente valorizado pela especulação imobíliária; como não temos recursos próprios pra uma empreitada desse porte, teríamos que recorrer a algum investidor, o que praticamente obrigaria o arrendar-se a agremiação por vários anos para os mesmos; que lucro teríamos em construir uma "arena" para 20 mil pessoas para um time que com muito esforço junta 2 mil pessoas num jogo importante, e mal junta 500 nos jogos "normais"??? O que se alega é que nosso atual estádio não oferece condições para recebermos os grandes clubes e nem para se fazerem partidas noturnas, por não haverem refletores.


Bastaria fazer como sempre fizemos: jogamos contra os grandes no Pacaembu e damos um jeito de instalar os refletores no nosso estádio, mas a Federação Paulista está criando exigências para que os clubes adequem seus estádios aos "padrões internacionais" de conforto e segurança, exigências essas que a maioria dos clubes não possui condições financeiras de cumprir... E esse é precisamente o mal do Juventus e de outros tantos times: não há mais espaço no futebol para eles. Tudo por causa da mentalidade dos que acham que para o nosso futebol voltar aos dias de glória (já tem um tempinho que estamos longe de ser os "reis do futebol"), devemos imitar com fidelidade canina o que é feito no futebol dos principais países europeus. Sobretudo no que toca à qualidade técnica dos times, onde em cada campeonato nacional o título é realmente disputado por no máximo quatro equipes, e as demais só aparecem pra servir de sparring a esses quatro times, pra deixar as fotos e demais imagens mais diversificadas e pra dar a ilusão de que a disputa é democrática. No nosso caso, a mídia tenta nos mostrar como o último bastião do futebol romântico (coisa que, se formos ver, realmente somos, mas não somos os únicos a ter esta honra), mas o faz deixando bem claro que este é o nosso lugar, do qual não devemos sequer pretender sair. Não se cogita que um dia voltemos a ter um lugar ao sol ao lado das grandes equipes, ou que possamos voltar a disputar campeonatos de ponta.


Em outra ocasião, eu já havia falado neste blog (mais precisamente aqui) sobre a minha paixão pelo E.C. XV de Novembro de Jaú. Pois bem, esta paixão ainda continua, mas desde que eu escrevi aquelas linhas muita coisa mudou. A situação deste time se depauperou consideravelmente; caímos para a quarta e última divisão do Campeonato Paulista, e estamos afogados em inúmeras dívidas, que dilapidaram consideravelmente o patrimônio do clube. Uma nova diretoria assumiu o clube e, ao que parece, demonstrou seriamente a intenção de tirar a agremiação deste mar de lama. Nesse interim, por influência de alguns amigos da universidade, acabei conhecendo melhor o time do Juventus. Quando dei por mim, já estava berrando loucamente sob uma bruta chuva enquanto comemorava o gol de empate do Moleque Travesso (apelido carinhoso da equipe juventina) contra um time de empresários qualquer; a paixão já havia me tomado por inteiro.


Tive alguns momentos de dilema, principalmente em uma tarde de fevereiro do ano passado, quando eu e mais 456 pessoas fomos ver o Juventus jogar contra o XV de Jaú na Rua Javari, em partida válida pela terceira divisão do Paulista. Nunca me senti tão dividido em toda a minha vida: enquanto comemorava os gols do Juventus (que venceu este jogo por 2 a 0), me sentia entristecido por ver o Galo da Comarca (apelido carinhoso do XV de Jaú) praticamente entregue às baratas em campo. Ainda tive alegrias tremendas, como a que senti quando o Juve finalmente conseguiu o tão sonhado acesso (que pena que este ano tudo foi posto a perder), ou quando quase derrubei dois sujeitos de uma altura de cerca de quatro metros, ao subirmos no alambrado do Setor 2 pra comemorar o gol de virada do Juve contra o São Bento, na estréia da Copa Paulista do ano passado... E as vezes em que pisei na Javari, acompanhado dos fiéis amigos que me apresentaram ao time??? 


E eis que aparecem os cachorrinhos de polícia deste estado de coisas em grande parte sustentado pela mídia pra dizer que toda estas alegrias não têm o menor valor. Que "devemos nos adequar aos tempos modernos". Que o futebol deve se tornar um esporte asséptico, calculista, metódico e abúlico. Que antes de ser um esporte, o futebol seja um negócio rendoso. E que, antes de mais nada, nos dê a ilusão de que é democrático e igualitário, onde todos têm chances iguais de se darem bem, e os que porventura fracassam é porque "não tiveram competência suficiente".


Para os que pensam assim, para os que desejam que a emoção do futebol se extingua por completo, para os que do conforto de suas arenas e de suas salas arejadas com TVs de plasma jamais souberam o que é realmente torcer para um clube, se empapando na chuva, sofrendo queimaduras do sol, e nem sempre (muitas vezes quase nunca) vendo bons resultados ou títulos, eu digo o seguinte: o Juventus, o XV de Jaú e vários outros times ainda estão na ativa, sobrevivendo como podem e como não podem, contra tudo e todos, porque são muito mais do que apenas clubes de futebol. Eles representam um Ideal. Jogadores, dirigentes e torcedores (até mesmo este que vos fala) vão partir um dia; ninguém vai ficar pra semente. Mas um Ideal, meus caros, nunca morre. Só morre quando não houver mais quem se disponha a sustentá-lo. E isso os amantes do que certo jornalista chama de "times de verdade" têm de sobra: disposição pra manter este Ideal vivo. Isso pode parecer muito piegas, mas de que vale a vida se ela não estiver minimamente calcada em uma paixão, em um Ideal a ser seguido ou alcançado??? Reflitam nisto!

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