domingo, 8 de setembro de 2013

The zueira never ends?




Saudações a todos! Como vocês devem saber, existe um intenso debate quanto aos limites do humor: será que podemos fazer piada com tudo e todos ou há piadas que não são tão legais de se fazer??? Qual a função do humor: ser um instrumento crítico da realidade e das instituições ou buscar apenas o riso??? São questões que não são fáceis de serem respondidas a priori, mas que ganharam uma grande importância, sobretudo por causa do que este sujeito aí da foto tem dito ultimamente em seu programa e nas redes sociais, onde , inclusive ele divulgou este vídeo aqui:





E, como sabemos, ele e vários outros gostam muito de dizer que praticam o "humor politicamente incorreto". Talvez parte do sucesso deles venha porque eles rompem com o velho humor de tipos e personagens caricatos, fórmula consagrada desde os tempos do rádio. Ou talvez porque em suas piadas eles falam daquilo que está na cabeça de muitos de nós, mas que por alguma razão não temos coragem de exprimir publicamente. Mas isso não responde às nossas questões iniciais. Sobre tudo isso, acho muito pertinentes as palavras de Roberto Gomes, no primeiro capítulo de sua "Crítica da Razão Tupininquim" (livro que todos os cultores das ciências humanas não podem deixar de ler, e que está disponível na íntegra aqui); os grifos são meus: 


"Gostamos muito de piadas. Há todo um espírito brasileiro que se delicia com a própria agilidade mental, esta capacidade de ver o avesso das coisas revelado numa palavra, frase, fato. Somos, os brasileiros, muito bem-humorados. Conseguimos rir de tudo. Do governo que cai e do governo que sobe. Das instituições que deveriam estar a nosso serviço, dos dirigentes que deveriam representar nossos interesses. E não é só. Chegamos a fazer piadas sobre nossa capacidade de fazer piadas. Nada mais ilustrativo do que a série de piadas onde representantes de outros países são ridicularizados pelo desconcertante 'jeitinho' de um brasileiro. Neste plano, seja dito, nos movemos com facilidade gritante (...)


Creio que a existência de uma piada tipicamente brasileira deveria ser objeto de estudo mais aprofundado. Possuirá características específicas? Que atitudes básicas revela? Uma saudável maneira de suportar um existir humilhado? Um modo de estar acima daquilo que amesquinha nosso dia a dia? Talvez sim. Certamente sim. Uns reagem com dramaticidade, tragédia e muito sangue - ocorreu-nos reagir com o riso. Talvez uma posição existencial muito nossa. O riso - um certo tipo de riso, o nosso - nos salva, tiraniza o tirano, amesquinha quem nos tortura, exorciza nossas angústias(...)


Há um perigo, porém. Sempre há um perigo. A mesma piada que salva pode mascarar-se em alienação. Como qualquer criação humana, também a piada deve ser essencialmente crítica, já que é de sua pretensão ser isso: uma forma de conhecimento. Ora, quando o riso se perde em pura facilidade, em distração, morre a atitude crítica. E o 'jeito piadístico' estará a serviço de nossa inautenticidade. Há indícios, entre nós, de tal coisa: deixar como está pra ver como é que fica; não esquentar a cabeça; analisa não; dá-se um jeito.


O conformismo brasileiro encontra aí seu terreno de eleição. Justificar, por exemplo, sua própria condição - dependência, insolvência política, jogos de privilégios - através de um simples 'o brasileiro é assim mesmo', eis o que impede seja criada entre nós uma atitude tipicamente brasileira ao nível da reflexão crítica, proposta e assumida como nossa. Desconhecendo-se (...) o brasileiro aliena-se de dois modos: rindo-se de sua sem-importância ou delirando em torno do 'país do futuro', em variados 'anauês'. Na verdade, conformismo e ausência de poder crítico, pois nos dois casos há um abandono - 'deixa como está para ver como é que fica' - e uma esperança mágica - 'dá-se um jeito' "


Perceberam a força destas linhas, meus caros??? De fato, o humor para se realizar precisa de algo que possa ser caricaturizado e ridicularizado, pois como toda forma de conhecimento, ele é crítico por natureza. Mas temos sempre que bater nas mesmas vítimas, nos estereótipos já prontos??? Temos que passar a vida reforçando "olha como aquele gordo só faz gordice", "olha como aquele homossexual é escandaloso", "olha como aquele negro é orgulhoso", "olha como aquele macumbeiro é ignorante", "olha como aquela mulher [que nos negou sexo, ou que respondeu nossa cantada escrota à altura] é feia e malcomida", e por aí vai ??? Temos que, como se não bastasse uma determinada mulher ter passado pela violência e pelo terror de um estupro, fazer troça de tudo que ela passou, só pra no fim reforçar que ela teve a culpa de tudo o que lhe aconteceu???


E mais: não é de se estranhar de que a maioria dos cultores deste tipo de humor sejam em sua esmagadora maioria homens, brancos, heterossexuais, não pertencentes a qualquer minoria social, étnica ou religiosa, e de uma condição social e econômica razoavelmente privilegiada??? Calma, não estou dizendo que há temas intocáveis no humor, mas há maneiras de se abordar estes temas sem bater nos alvos de sempre! Para os sedentos por provas, ei-las (ah! um aviso! Quanto ao terceiro vídeo, certifique-se de que as crianças e o seu chefe não estão por perto quando você estiver assistindo, ok?):











Poderíamos citar outros exemplos com este e com outros humoristas, mas acho que esses três vídeos ilustram bem o que eu quero dizer; são os mesmos temas polêmicos, mas o foco da piada é completamente diferente. Talvez não seja todo mundo que disponha de talento e de inteligência suficiente para conceber uma piada nesses moldes, e talvez também seja necessária uma certa agudeza pra entender e rir de piadas como as dos vídeos acima. Mas a questão exige um posicionamento claro: vamos sempre ficar chutando cachorro morto na rua ou vamos fazer como a criança do conto "A Roupa Nova do Rei", gritando a plenos pulmões: "Ih, o rei está nu!" ???


Tirem as suas próprias conclusões, meus caros! E, quando puderem, assistam este documentário aqui, um resumo mais aprofundado de tudo que abordamos neste post... Até a próxima!

2 comentários:

  1. Ninguem pode fazer uma distinção do que pode ou não fazer piada, ou se pode fazer piada de tudo ou não se pode fazer piada de nada. Mas já que não se pode, mas fazer piada zuando negros ou vitimas do holocausto, vamos proibir as piadas com loiras, vamos proibir a s piadas sobre os japoneses terem pênis pequenos e assim a humanidade vai perdendo cada vez mais a sua liberdade de expressão. o maior exemplo de uma pessoa que não se importa de ser zuado e um dos criadores do desenho south park que dubla a voz do personagem kyle. onde o mesmo ja assumiu ser judeu e ele mesmo escreve as piadas sobre os judeus. portanto deveriam parar com todo esse choro.

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