domingo, 15 de setembro de 2013

V de velhacaria, ou os guardiões da lei, da moral e dos bons costumes


Saudações a todos. Com a eclosão dos últimos protestos, que como vocês devem bem se lembrar inicialmente visavam a redução da tarifa do transporte público, e que com a virulência dos acontecimentos trouxeram à baila inúmeras questões ainda candentes em nossa sociedade, uma das quais a apropriação do movimento pelas classes mais conservadoras, que ao participar dos acontecimentos quiseram impor as suas bandeiras.


E entre essas bandeiras está uma suposta exigência de moralização da vida política da nação, com "a luta pelo fim da corrupção". Não vamos aqui nem nos deter no que pudemos notar nesses dias tão intensos: gente querendo a volta da ditadura militar, a restauração da monarquia, a manutenção dos preconceitos e desigualdades sociais; fiquemos por ora neste ponto específico, o "fim da corrupção", sobretudo porque é um tema que ainda é capaz de subverter a opinião de gente não muito esclarecida nesses assuntos.


Com certeza muita gente bem-intencionada se pergunta: "Ora, se o nosso país é tão rico, por que em seu seio há tanta gente na pobreza, à margem dos direitos mais básicos??? Porque praticamente todos os serviços e equipamentos públicos estão tão precários, apesar dos altíssimos impostos que pagamos (queixa frequentíssima da classe média)???" E a que considero a cereja do bolo: "Se o Lula e o PT chegaram ao poder prometendo mudar este país, porque a nossa vida (da classe média, vale bem lembrar), continuou como dantes no quartel de Abrantes (Justo nós, que carregamos este país nas costas e pensávamos que o governo petista ia transformar esta nação no parque de diversões de nossos loucos devaneios)???"


Talvez todo este povo não tenha em mente que este argumento, no qual primeiro é necessária um reforma moral para depois combatermos as injustiças sociais, ou que a reforma moral dos poderes executivo e legislativo por si só já resolveria todos os graves problemas sociais de que padecemos, lembra muito o pensamento de certo economista nos tempos da ditadura militar, que dizia que "primeiro deveríamos deixar o bolo crescer para depois dividir ente a nação", ou mesmo dos que o precederam logo após o fim desta mesma ditadura, que também pensavam que primeiro era necessário sanar os problemas da economia (leia-se: controlar a inflação e o desemprego) para depois pensarmos nos problemas sociais da nação. E os resultados de suas ações já são bem conhecidos, e sem sombra de dúvida podemos afirmar que ainda hoje pagamos o preço de seus descalabros.


Mais do que nunca, é preciso superar este paradigma de classe média individualista que só pensa em seu próprio umbigo. A vida da classe média aqui em nossas bandas pode estar bem longe de ser o paraíso esperado, mas eu garanto que nesta nação há milhões de seres humanos que, sem pensar duas vezes, trocariam sua vida de pobreza e humilhações de toda espécie por qualquer um dos privilégios que qualquer membro da classe média tem acesso. E é justamente para estes que historicamente foram excluídos dos mais básicos direitos que os últimos três governos federais tem governado, em que pese seus inúmeros vícios e a completa falta de energia em atuar em certos problemas mais prementes. 


Por esta e outras razões (queria desenvolver mais minha argumentação, mas a inspiração pra continuar escrevendo já me foge), compartilho abaixo o texto de um grande amigo que me conheceu ainda na tenra infância e que depois de 20 anos tive o prazer de reencontrar pelas redes sociais. O sujeito tem uma linha de pensamento semelhante à minha, mas com a vantagem de ser um polímata, e de ter vivido neste mundo e militado por boas causas muito mais que eu (sua cabeça já grisalha é prova disto tudo que afirmo). O texto abaixo é uma síntese de tudo que escrevi neste post até agora:


Aos bobalhões de barriga cheia, roupas limpas e casa pra morar, que saem fazendo passeatinha oca "pelo fim da corrupção", saibam algumas coisas.


1) É lamentável, mas a corrupção MUNDIAL é tão inerente às comunidades humanas quanto o sexo, dormir, alimentar-se e respirar. Em países em que a população vive bem melhor que aqui, 25% afirmam já ter pago algum tipo de propina a policiais, governantes e cartorários. Dinamarca e Finlândia figuram no topo das listas de países onde a corrupção é maior.


2) A corrupção governamental oscila entre 2% e 6% do PIB dos PAÍSES (o que é um dinheiro estrondoso!). No Brasil ela oscila entre 1,7% e 2,5%, o que também daria pra fazer muita coisa, mas nos coloca apenas em 69⁰ lugar entre os mais corruptos.


3) Nos cômputos da corrupção estão também o "trocadinho a mais" para liberar carteira de motorista, o "quebra-galho" para acelerar processos burocráticos e até pequenas "falsificações ingênuas" (comércio de atestados médicos falsos, diplomas e declarações, cancelamento de multas diversas, liberação de construções irregulares e obtenção de pequenas vantagens como informações sobre concorrentes). Poucos escapariam de uma peneira fina...


4) Não existe corrupção governamental sem a correlação com a acumulação privada e o enriquecimento de empresas de todo porte. Inclusive marcas por aí, que botam páginas nas redes sociais e o pessoal "curte" (bancos, telecomunicação, grifes, jornais, revistas e agremiações esportivas).


5) Grande parte dos desvios se dão por meios "legais". Os lobbies sobre casas parlamentares e que resultam em leis, que favorecem: a exploração de mão-de-obra precária (terceirizações e cooperativas fajutas), a remissão de dívidas tributárias de empresas (opa!) e a cessão de benefícios fiscais a negócios lucrativos, inclusive ONGs e templos religiosos.


Então, aos trouxas que ficam "passeatando" com vassourinhas janistas, mascarazinhas de filme, clamam "fora Fulano, fora Beltrana", percebam o quanto vocês se deixam manipular por gente que quer suprimir os SEUS direitos trabalhistas, tapeá-los com a "imprensa livre", achatar as condições de vida de trabalhadores pobres e entregar nossa economia a trustes transnacionais. 


Se quer combater a corrupção, comece parando de pagar suborno ao despachante, comparecendo à reunião do seu condomínio, participando de associações de pais da escola de seus filhos e votando dentro de seu sindicato. O resto é balela, seus tontos!

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