segunda-feira, 2 de setembro de 2013

Os umbandistas não conhecem sua própria história e sua própria cultura

 
Sete da Lira, tão esquecido entre os próprios umbandistas!
 
Saudações a todos! Eu havia planejado escrever este post antes do último que publiquei, mas como já disse alguma vez por aqui, resenhar um disco é muito mais fácil. Assim sendo, falarei de um tema que, por conta de minhas pesquisas e de minha vivência na religião umbandista, se tornou bastante candente: quando estudamos a história, a música e a cultura umbandistas, notamos que há entre os próprios adeptos da religião um total desconhecimento da música e da cultura da Umbanda, isso pra não falarmos de uma total falta de zelo em preservar a memória histórica e cultural da religião...
 
 
Me explico: aqui mesmo no blog, eu contei por alto um pouco da história do Seu Sete da Lira de D. Cacilda, enquanto resenhava um dos três discos que foram lançados em sua inspiração (aliás, este é o post mais lido e comentado do blog até hoje). Eu comentei com alguns umbandistas mais velhos (entre os quais minha mãe de santo) sobre esta história, e perguntei se eles já haviam ouvido falar dela. E não é que nenhum dos que eu consultei disseram ainda se lembrar disso??? E estamos falando de uma entidade que roubou a cena dos dois maiores programas de TV das duas maiores emissoras da época, de tal forma que ensejou um maior arrocho da censura da ditadura militar na televisão; estamos falando de uma entidade que atraía todos os sábados em seu tempo milhares de pessoas, e seu legado desaparece assim, quase sem deixar rastro??? Felizmente, há dois sujeitos que foram filhos de santo deste templo, e que nesta e também nesta outra página do Facebook, postaram fotos e relatos que nos ajudam a entender um pouco desta história e não deixar o legado de Seu Sete da Lira se perder por completo.
 
 
Mas os casos de abandono e de esquecimento da memória histórica e cultural da Umbanda não param por aqui. Todos os que gostam de samba certamente já ouviram falar de D. Ivone Lara, ou certamente já ouviram ao menos uma vez uma de suas inúmeras composições. O que muito pouca gente sabe é que antes mesmo de gravar seus discos ela participou de um disco de inspiração umbandista, e não era um disco qualquer: era o último de uma famosa série de discos umbandistas, a "Saravá... Umbanda é Paz e Amor", na qual se gravaram inúmeros pontos ainda hoje utilizados nos terreiros, bem como várias composições de José Manuel Alves, autor do Hino da Umbanda; este disco, além de contar com a presença de D. Ivone Lara, conta também com a presença de duas cantoras bastante apreciadas na música do santo: Baianinha e Genimar (desta última eu resenhei aqui o seu apreciado disco - é o segundo post mais lido e comentado do blog); o disco contém jongos, toadas e sambas de inspiração nas coisas do santo, e ficou tão bom que serviu de base para duas coletâneas.
 
 
Mas, incrivelmente, esta informação não consta na página oficial de Dona Ivone ou na página da Wikpédia à ela dedicada. E isto é espantoso não só se considerarmos que é o governo do estado do Rio de Janeiro que financiou a criação da página oficial da cantora, mas também por considerarmos que este desconhecimento também grassa dentro do próprio meio umbandista. Só para provar que não minto, eis aí os fonogramas cantados por D. Ivone Lara. O LP em questão é raro, mas pude obter as faixas por virtude de uma coletânea que aproveitou boa parte das músicas dele:
 
 
 






Antes que alguém me acuse de estar difamando a imagem de uma famosa e respeitada sambista, ou mesmo de estar criticando injustamente minha própria religião, devo lembrar que as questões que pretendo levantar aqui são de muita pertinência neste momento em que tanto se discute qual é o papel da religião umbandista dentro da sociedade, como ela poderá se defender da intolerância religiosa da qual ela sempre foi vítima e que agora está sendo levada a cabo por algumas denominações cristãs, ou mesmo de que forma ela poderá gozar da legitimidade social plena, coisa que já tem legalmente, mas ainda não tem de fato. E aí eu me pergunto: como poderemos nos dedicar à estas tarefas se nem ao menos conhecemos o legado de nossa religião??? Se pouco ou nada sabemos de sua história, de sua música, de sua literatura???
 
 
Enquanto perdemos tempo e paciência discutindo infrutiferamente se devemos ou não usar atabaques, sacrificar animais, utilizar o fumo e/ou a bebida alcóolica ou mesmo cultuar os exus e pomba-gira dentro dos templos, estamos permitindo que todo um patrimônio histórico e cultural que não se pode encontrar em nenhuma outra religião ou grupo social do mundo morrer juntamente com seus detentores... E, se deixamos tal coisa acontecer, temos um grande prejuízo não só à religião, mas a todo o nosso saber enquanto humanidade... Se as outras religiões gabam tanto sua filosofia, sua história, enfim, sua cultura, porque nós umbandistas ainda não pudemos fazer o mesmo???
 
 
Como eu costumo dizer: as questões são muitas, e encontrar uma resposta para elas não é nada fácil. Mas eu espero que com estes breves exemplos, eu tenha dado uma pequena contribuição à este tema... Até a próxima!

Um comentário:

  1. Muito obrigado Sr.Adriano Oliveira, está entidade seo sete Rei Da Lira ae apresenta para mim e trabalho com ele também, salve seo sete Rei da Lira.
    Meu Mojubá!!!

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