sexta-feira, 14 de agosto de 2009

Leôncio e Leonel - Tire o Olho Gordo - 1971



01. Tire o olho gordo; 02. Pai João e Mãe Maria; 03. Rosa vermelha para moça bonita; 04. Lança de São Jorge; 05. Rei do samba; 06. Deus lhe pague; 07. Via sacra no sertão; 08. Filho do diabo; 09. Velho catireiro; 10. Assombração; 11. Cacho de uva; 12. Bambolê de baiano.



Esta é uma postagem que eu me sinto bastante feliz de fazer (e vocês logo saberão o porquê). Um dia desses, eu estava comentando que a Umbanda (ou, pelo menos a sua música) havia se infiltrado em todos os gêneros de música popular, e aqui vai mais outro exemplo curioso disto: aqui está um disco de música caipira que não só tem algumas músicas de inspiração umbandista mas também algumas profanas e até outras inspiradas na devoção católica da gente do interior...


Os artistas deste disco, Leôncio e Leonel, são naturais de uma cidadezinha do interior paulista chamada Bariri, que está a uns 400 quilômetros da capital. Viveram com a família durante algum tempo em uma fazenda no município vizinho de Boracéia( não confundam com a "Ponta da Boracéia" do Litoral Sul paulista; esta Boracéia de que falo é uma cidade "enorme" de uns 5 mil habitantes, vizinha a já falada Bariri e a Bauru), onde conviveram com a família de meu avô paterno, e de lá saíram para a carreira artística.


De repente, agora que cito meu avô, me lembro que ele nos conta esta e outras histórias sem omitir o mais ínfimo pormenor delas; se você quer saber EXATAMENTE (perdoem-me o sacrilégio historiográfico) como qualquer coisa aconteceu, escute a versão que meu avô paterno dará ao fato em si.


Quanto ao que estamos tratando aqui, ele me conta que trabalhava numa fazenda juntamente com o pai desses dois artistas, e que a mãe deles era uma excelente benzedeira de crianças; que naquela comunidade em que todos viviam, os citados artistas não eram muito benquistos; que na primeira vez em que eles se apresentaram num programa de rádio (se eu não me engano foi na "Rádio Cultura de Pederneiras"), o locutor até interrompeu a apresentação no meio de tão desagradável que tinha ficado; e que com isto o pessoal da fazenda até dizia: "Leôncio e Leonel, os dois cantores com dor de barriga"; e que na mesma família haviam outros dois irmãos que cantavam, mas, segundo meu avô, eram mais ruins que seus dois irmãos mais famosos.


Talvez meu avô tenha contado tudo isto até por despeito, porque ele e um irmão também tentaram engrenar uma carreira na música caipira, mas pela falta de vontade deste meu tio-avô, não foram para a frente (ao contrário de Leôncio e Leonel, que até obtiveram algum sucesso na música caipira); é com latente saudade que meu avô fala de certa ocasião em que eles ficaram três dias e três noites vagando pelas cidades vizinhas do local aonde eles moravam, só tocando viola a convite dos outros;


E é com muita raiva que meu avô fala de certa ocaisão em que um explorador de talentos queria levá-los com sua comitiva para o interior do Paraná para, segundo ele, depois levá-los à Radio Bandeirantes de São Paulo, onde "ele botaria a gente na mão do Zico e Zeca" (que nessa época eram apresentadores de um programa de música caipira nessa rádio). Ma o negócio melou porque meu tio-avô tinha acabado de se casar e não queria ficar longe da família, embora meu avô estivesse louco pra partir (ele era solteiro nessa época)... Histórias de família...


Ah, onde eu deveria estar???? O disco em si e os artistas não são brilhantes, mas vale a pena pelo fato de misturar em um lugar só coisas que abordam tradições religiosas tão antagônicas como são a católica e a umbandista (minto, se considerarmos o catolicismo popular, ainda mais o da gente caipira, esse antagonismo talvez quase desapareça) .E tudo isto sem talvez se dar conta do que estavam fazendo... Enfim, pelo menos vale a pena ouvir ou como documento antropológico, talvez...


E vamos ao colírio, na força de meu pai Ogum!


Para ouvir a faixa 04, "Lança de São Jorge", clique no seguinte link:








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